Mentor da ‘Barbárie de Queimadas’ usava documento falso e contou com ajuda financeira de familiares e de grupo criminoso.
Registro da prisão - Foto: Divulgação/Polícia Civil
Eduardo dos Santos Pereira estava sozinho na casa em que
morava quando foi preso em Rio das Ostras, município do Rio de Janeiro.
Mentor da "Barbárie de Queimadas", Eduardo dos
Santos Pereira estava sozinho na casa em que morava quando foi preso na manhã
desta terça-feira (19) em Rio das Ostras, município do Rio de Janeiro. Ele
vinha usando um documento falso, em nome de um idoso de 62 anos, e contou com a
ajuda operacional e financeira de familiares e, por um período, de um grupo
criminoso. Foi depois que a ajuda desse grupo criminoso findou, que a Polícia
Civil da Paraíba teve mais facilidade em mapear o paradeiro do fugitivo.
As informações foram repassadas em uma entrevista coletiva
que foi realizada no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC) da
Secretaria de Estado de Segurança e Defesa Social, que contou com a presença de
diferentes autoridades das forças de segurança da Paraíba. Foi informado também
que aquele era o terceiro endereço que Eduardo se fixava no estado fluminense
desde que fugiu do presídio de segurança máxima PB1, em João Pessoa.
Delegado-geral da Polícia Civil da Paraíba, André Rabelo
destacou que Eduardo fugiu da Paraíba direto para a comunidade da Rocinha, no
município do Rio de Janeiro, onde o pai dele mora e tem um bar. E onde ele
morava antes de se mudar para Queimadas, no interior da Paraíba.
"Ele tinha uma vida pregressa no Rio de Janeiro. Chegou
em Queimadas e com ele veio o costume de ter, possuir, fazer o que bem queria
com a mulher que quisesse. Depois de cometer o crime e conseguir fugir, voltou
para o local onde se sentia protegido", explicou o delegado-geral.
André Rabelo destaca que, desde a época de Queimadas, Eduardo
já apresentava um estilo incompatível com a sua renda declarada. E que essa
realidade continuou depois da fuga, já que Eduardo nunca trabalhou em todo esse
tempo. O delegado explicou ainda que a ajuda financeira e operacional de um
grupo criminoso do Rio de Janeiro só foi suspenso no primeiro semestre de 2023,
pouco depois de o programa Linha Direta, da TV Globo, ir ao ar.
Depois que a ajuda do grupo criminoso cessou, apenas seus
familiares continuaram a ajudá-lo. E isso teria facilitado o processo de mapear
os passos que o criminoso dava e de rastrear o dinheiro que chegava até ele.
"Chegamos perto de prendê-lo várias vezes, mas não é
fácil encontrar alguém que está fugindo do aparato estatal", frisou.
Foi mais ou menos nessa época, quando a ajuda do grupo
criminoso se findou, que Eduardo dos Santos Pereira deixou a Rocinha e se mudou
para o município de Macaé. Em torno de seis meses atrás, nova mudança, dessa
vez para Rio das Ostras, onde ele finalmente foi localizado e preso.
"Todos os recursos disponíveis foram usados. Conseguimos
prendê-lo sem disparar um tiro, sem arrombar uma porta", comentou André.
"A gente entende que o tempo que uma investigação dura nem sempre é aquele
que a sociedade espera, mas não é fácil procurar alguém que se esconde da
Justiça em diferentes estados da federação", completou.
A delegada Kassandra Duarte, que acompanha o caso da
"Barbárie de Queimadas" desde 2012, quando à época era a delegada de
Homicídios da Polícia Civil, ressaltou que era emblemático o fato de a prisão
de Eduardo dos Santos acontecer no mês da mulher. Ela classificou o caso como
sendo de "gravidade extrema" e relembra que envolveu dez homens,
sendo sete adultos e três adolescentes.
"Foram cinco mulheres estupradas, sendo que duas delas
foram mortas por terem identificado os criminosos", destacou Kassandra.
"A prisão de Eduardo é uma resposta estatal contra a impunidade",
prosseguiu.
De acordo com Kassandra Duarte, "ninguém mata por ter
cuidado ou porque ama. Se mata e se comete violência contra a mulher, é porque
a vê como um objetivo". Ainda segundo ela, é esse tipo de cultura que é
combatido quando o Estado impede que crimes dessa natureza permaneçam impunes.
A "Barbárie de Queimadas" aconteceu em 2012, quando
cinco mulheres foram estupradas durante uma festa de aniversário, por homens
que elas consideravam serem seus amigos. Entre elas estavam Izabella Pajuçara e
Michelle Domingos, mortas de forma violenta porque, durante os estupros,
identificaram os agressores.
Além de Eduardo, outros seis homens foram considerados
culpados e receberam sentenças, enquanto três adolescentes foram sentenciados a
cumprir medidas socioeducativas. Eduardo foi condenado a 108 anos e dois meses
de prisão em setembro de 2014, mas em 17 de novembro de 2020 ele conseguiu
fugir da penitenciária em que estava usando a porta lateral da edificação.
Por Phelipe Caldas, Luana Silva, g1 PB
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