PALAVRA DO SENHOR – A vassalagem e a dependência dos palácios.
A 1ª Leitura deste domingo a
liturgia nos apresenta o Profeta Amós (7, 12-15) que viveu 700 anos antes de
Jesus. Foi uma época de muita prosperidade econômica e bem estar das classes
favorecidas, contrastando com a miséria de uma parcela do povo.
Os comerciantes aproveitando
o bem estar econômico fazia especulações com os preços e as medidas. O aumento
dos preços dos produtos essenciais tornou inviável o consumo pelas classes
pobres. Eram sempre os grandes latifundiários que saiam ganhando.
Os de grande fortuna
dominavam os tribunais e subornavam os juízes
impedindo que fizessem justiça aos mais pobres e defendessem os menos
favorecidos. Dentro desse contexto florescia a religião em esplendor ritual
nunca visto. O CULTO SÓ SERVIA PARA OCULTAR AS INJUSTIÇAS DO DIA-A-DIA.
O cap. 7 de Amós inicia com
três visões arrasadoras contra Israel: uma nuvem de gafanhotos que se aproxima,
o mar em chamas e Deus com um prumo nas mãos para nivelar Israel.
No santuário do rei Jeroboão
havia um bezerro de ouro, mas precisamente em Betel. O culto ao ouro e a prata,
tão reclamado pelos profetas, descreve um sintoma social. O conceito de
estabilidade política proporcionou muitas vezes apenas a classe empresarial
(grandes comerciantes), a corte e a religião submetida aos grandes. A grande
população sustentou toda essa estrutura por meio da escravidão e a injustiça
social, aumentando ainda mais a miséria.
Nesse contexto, a realidade
devocional é crescente, porém mecânica e serviçal aos grandes: muita
formalidade, excessos de ritualidade, crescente ideal de bênçãos e riquezas e a
idolatria do ouro e da prata no centro do culto.
Também ficou famosa a
expressão de Amós contra as mulheres dos grandes empresários de seu tempo que,
vendo a crescente miséria, se preocupava apenas com o que iam beber e comer à
custa da exploração. Elas eram chamadas de vacas de Basã (Am 4, 1-3).
Amós foi enviado ali para
exercer sua profecia onde falou tão ousadamente que Amasias (sacerdote) foi
dizer a Jeroboão que o profeta conspirava contra ele. Amasias, não suportou
mais a profecia de Amós e foi denunciá-lo ao rei Jeroboão (rei de Israel).
Depois de denunciar o
profeta ao rei, Amasias diz: “vidente, sai e procura refúgio em Judá, onde
possas ganhar teu pão e exercer a profecia, mas em Betel não deverás insistir
em profetizar, pois aqui é SANTUÁRIO REAL, UMA DEPENDÊNCIA DO PALACIO DO REI”.
(7, 12-13)
Triste papel de um sacerdote
que ao invés de cuidar da fidelidade de Israel à Aliança feita com Deus
serve-se de fofoqueiro denunciando aquele que fazia o papel de porta voz de
Deus. O sacerdote ao invés de pregar a conversão e o arrependimento persegue o
homem de Deus que queria o bem do povo.
É INACEITÁVEL ouvir de
qualquer cristão, mesmo que seja uma grande autoridade religiosa, que “essa
coisa de defender pobres já está ultrapassada”. O sacerdote Amasias entendia
que a função da religião era dar respaldo ao rei (independente de sua conduta),
Amós tem consciência de que exerce a sua função por um mandato divino. QUAL A CONSCIÊNCIA QUE TEMOS DE NOSSA MISSÃO?
Quando a religião está a
serviço dos poderosos ela perde a sua finalidade real e se vende aos interesses
destes. No caso do sacerdote Amasias, é visível a vassalagem da relação em relação
ao poderio do rei e da classe dominante. Historicamente, conhecemos um desvio
de função da religião no sistema chamado de cristandade. Para expandir sua
presença e seu poder na sociedade civil utilizou-se, antes de tudo, da mediação
do estado.
Sempre houve na história
lideranças religiosas que se submeteram ao poder das classes dominantes
buscando determinados favores e traindo a Palavra de Deus. Nas estruturas de
poder ainda encontramos a prevaricação com bancadas religiosas e suas teologias
de domínio e da prosperidade. O autêntico evangelho de Jesus passa longe.
Engana-se quem pensar que
tentar calar a voz dos profetas, viver perseguindo e denunciando os que
defendem os pequenos e excluídos ou lhe ser indiferente será o bastante: “Se
eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19, 40). A verdadeira profecia sempre
terá seu lugar denunciando as falcatruas dos governos, da classe empresarial
mercenária e dos religiosos (quando estes se desviam da justiça do Reino de
Deus e da autêntica religião).
Uma vez rejeitado em sua
terra (Mc 6, 1-6) Jesus começa uma nova etapa na sua missão ensinando nos
povoados. No evangelho desse domingo (Mc 6, 7-13) Jesus envia seus discípulos
em missão (dois a dois) dando-lhes poder sobre os espíritos maus e pede que no
caminhar dos discípulos não seja ostentativo (queixa da primeira leitura), pois
a missão está enraizada em Jesus Cristo: tratar dos doentes, curar os leprosos,
expulsar demônios e dizer que o Reino de Deus chegou.
O Reino de Deus anunciado
por Jesus não é uma doutrina, nem mesmo um catecismo ou uma lei, mas o cuidado
humano com os outros. Só essa Boa Nova que é absoluta, outra coisa se torna
fugaz, como foi na época de Amós. LEMBRE-SE QUE PROFECIA FAZ PARTE DA MISSÃO.
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e psicólogo
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