Governo publica portaria conjunta para destravar emendas parlamentares.
Texto era aguardado por parlamentares para retomar votação de
projetos
Foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União
(DOU), na noite desta terça-feira (10), uma portaria conjunta do governo
federal para operacionalizar a liberação de emendas parlamentares, incluindo as
chamadas "emendas pix", que são transferências especiais diretas do
caixa da União para estados e municípios. O texto era aguardado pelos
parlamentares, após uma decisão de ontem (9) do ministro Flávio Dino, do
Supremo Tribunal Federal (STF), ter rejeitado um recurso da Advocacia-Geral da
União (AGU) que pedia mais flexibilidade
no detalhamento dessas emendas. Com esse revés, o governo temia um boicote na
votação de projetos prioritários, incluindo o pacote de corte de gastos
apresentado na semana passada.
Na prática, a portaria reflete os termos essenciais da
decisão de Flávio Dino para o pagamento das emendas de comissão, de bancadas e
individuais de deputados e senadores do Congresso Nacional, mas com uma
interpretação diferente em relação àquelas empenhadas antes da data da
publicação da decisão judicial, que é o dia 3 de dezembro de 2024. É o caso da
destinação das emendas de transferências especiais (emendas pix) para a área da
saúde empenhadas até esta data, que não precisam de detalhamento em plano de
trabalho nem observar critérios técnicos definidos por gestores do Sistema
Único de Saúde (SUS) e fixados por comissões intergestores bipartite ou
tripartite. As emendas na área da saúde representam metade do volume total
destinado em 2024. A norma é assinada pelos ministros Fernando Haddad
(Fazenda), Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Esther Dweck (Gestão) e
Alexandre Padilha (Relações Institucionais).
Seguindo os termos da decisão do STF, a portaria
interministerial estabelece que a apresentação do plano de trabalho para a
destinação das emendas é condição prévia para utilização, pelo ente
beneficiário, dos recursos liberados a partir de 3 de dezembro de 2024, data da
publicação da decisão proferida no âmbito da ADPF 854. Nesse caso, segundo a
norma, "os beneficiários das transferências especiais deverão apresentar,
até 31 de dezembro de 2024, o plano de trabalho a ser inserido no
transferegov.br, sendo obrigatória a vinculação de seu objeto à finalidade
definida, classificada pela função e subfunção orçamentárias".
Caberá aos órgãos setoriais responsáveis pela avaliação dos
planos de trabalho a elaboração, até 1º de fevereiro de 2025, de parecer
indicando aprovação, aprovação com ressalvas ou reprovação, devendo dar
publicidade aos relatórios de avaliação na internet. Pela portaria, o órgão
executor das emendas deverá fazer constar a identificação do parlamentar
solicitantes do recurso. Pode ser considerado solicitante qualquer parlamentar
que assim se identifique, inclusive os líderes partidários, nos termos que já estavam
previstos na decisão de Flávio Dino e na Lei Complementar 210, que estabeleceu
as novas regras sobre as emendas parlamentares.
Execução das emendas
Horas após a decisão de Dino, ainda na tarde de ontem, uma
reunião de emergência foi convocada por Lula com os presidentes da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no
Palácio do Planalto, justamente para discutir formas de destravar as emendas.
"Esclarecemos aos presidentes das duas Casas qual a
interpretação que a AGU fez das últimas decisões do ministro do STF e que sairá
um parecer de força executória da AGU, colocando essa interpretação, e isso
permite que os ministérios possam dar continuidade na execução das emendas",
explicou o ministro Alexandre Padilha, em entrevista nesta terça, após
participar do Fórum de Governadores, em Brasília. A orientação do governo,
repassada aos presidentes do Poder Legislativo, é a de acelerar a execução das
emendas.
"Nós queremos que esses recursos sejam executados. São
obras, são programas das universidades federais, programas da área da saúde,
volume de recursos que foram apontados por parlamentares, mas são programas
importantes, tem ali recursos para reduzir filas de cirurgias e de exames do
Ministério da Saúde, obras que estão em andamento", argumentou. Na
avaliação do ministro, a execução dos recursos orçamentários das emendas
melhora "ainda mais o ambiente dessas votações".
No fim da tarde desta terça, o presidente da Câmara informou
que indicará os relatores de dois dos projetos do corte de gastos, que já
tiveram tramitação de urgência aprovada, e que a agenda de votações nas
próximas duas semanas ocorrerá de segunda a sexta-feira, para concluir o
calendário de votações, que também inclui Projeto de Lei Orçamentária Anual,
Lei de Diretrizes Orçamentárias e outras matérias, como a regulamentação da
reforma tributária. O parecer jurídico da AGU, citado por Padilha, que dará suporte
jurídico à portaria conjunta, ainda não havia sido divulgada pelo órgão até o
fechamento desta reportagem.
Agência Brasil
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