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PALAVRA DO SENHOR - Recomeçar

O ano se inicia com um convite a recomeçar a vida a partir de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele é a proposta concreta e real do Reino de Deus.

A vida espiritual é marcada pelas virtudes teologais da fé, esperança e a caridade. A palavra virtude tem sua origem na Grécia, onde é representada pela palavra areté (excelência). Em latim (vírtus) significa força. A esperança é uma força que vem de Deus, não é um hábito ou um traço do caráter que alguém tem ou não tem, mas algo que se possa pedir: Senhor, dai-nos a graça da esperança! Por isso, neste ano nos tornamos peregrinos da esperança com o desejo de recomeçar a vida.

O Evangelho proposto para este domingo (Lc 3, 15-16. 21-22) nos coloca dentro da cena do batismo de Jesus que traz á tona Sua identidade e missão (descrita nas outras leituras (Is 42,1-4. 6-7/ At 10, 34-38)). Ele traz um novo caminho e começa a viver de acordo com um novo horizonte: sai do deserto para a Galileia, desejoso de viver perto dos problemas e sofrimentos que afligem as pessoas.

Em relação ao batismo de Jesus os evangelhos descrevem uma cena impressionante marcada por teofanias: “os céus se abrem”, “o Espírito em forma de pomba”, “Ouve-se uma voz”, “a confirmação da missão”. Chegou Aquele de quem João Batista dizia: “virá alguém maior do que eu” (cf. Lc 3,15ss). Porém, para não ficarmos no impressionismo das teofanias a Liturgia da Palavra nos faz caminhar com Jesus para compreendê-lo no caminho: “E logo o Espírito o conduziu” (Mc 1, 12a).

A festa do batismo do Senhor também nos insere um pouco na vida e missão de João Batista, profeta da esperança.  O batismo tem em si a espiritualidade do recomeço e a densa promessa da vida em plenitude (alfa e ômega).  É porta e início do caminho de uma vida espiritual que é semelhante à do Cristo, servo sofredor, e que tem seu desfecho final na eternidade.

Em torno de João Batista muitos se aglomeravam em busca de um recomeço (cf. Mt 3, 7. Mc 1, 5. Lc 3, 7. 21). Ele propunha atravessar o Rio Jordão, algo semelhante ao que aconteceu com Moisés e Josué, atravessar o mar e o deserto uma busca da terra prometida. Recomeçar é receber de novo a terra prometida, como nas origens.

“O menor no Reino de Deus”. Acolher o Reino de Deus inclusive nos sinais sacramentais é acolher uma nova lógica, uma nova ordem de grandeza, um novo salto qualitativo (areté) que todos nós precisamos aprender, por isso, recomeçar. Inclusive nossas comunidades eclesiais: Recomeçar em Jesus Cristo.

Enquanto Jesus fazia um elogio a João Batista o profeta estava preso, cheio de dúvidas e perguntas, pois um clima de hostilidade pesava sobre todos (cf Mt 11, 1-4. Lc 7, 18-23). É assim, muitas vezes. Temos medo do novo quando parece que a incompreensão e a dureza de coração de muitos se avança com militâncias poderosas e odiosas.

Herodes (símbolo da grandeza e da forte rejeição) já fazia forte oposição aos sinais do Reino de Deus. Mas, a força do Evangelho é como uma semente pequena que desmonta os grandes em seus projetos maliciosos. Fazer oposição aos pobres, aos pequenos e excluídos é malicioso e perverso e a história já nos mostrou que isso já foi feito de muitas maneiras. É dentro desse contexto que Jesus vai fala das bem aventuranças como caminho do Evangelho (cf. Mt 5, 1-12. Lc 6, 20-23).

Portanto, batizados em Cristo, nos perguntamos: Quero recomeçar minha vida como Cristo ou como Herodes? Quero recomeçar minha vida como Jesus que é o menor neste mundo e maior no Reino? Nossas comunidades eclesiais e nossas lideranças se identificam com os pequenos e excluídos? Qual evangelho você segue? Qual mistério você contempla? 

A originalidade do Reino de Deus que se manifestou em Jesus é fazer-se pequeno, é ver nos pequenos e excluídos os sinais de “o céu está aberto” (Lc 3, 21). É este Jesus que se manifesta a todos para ser conhecido por eles. Quem deseja conhecer a Deus, suas ações e projetos e como os realiza, não precisa se preocupar com raciocínios (gnose), basta olhar para Jesus.

É Jesus quem deve ser contemplado, observando o que ele faz, ensina, comporta, a quem ama, a quem prefere, com quem anda, com quem se senta à mesa, quem escolhe para estar consigo, a quem defende, a quem censura, com quem senta a mesa. Assim, é possível compreender como é Deus. CUIDADO, POIS TEM MUITOS MESSIAS QUE NÃO TEM NADA COM O JESUS DE NAZARÉ, O CRISTO DE DEUS. E AS NOSSAS IDENTIFICAÇÕES COM ESTES FALAM MUITO DE NOSSA ESPIRITUALIDADE E COERÊNCIA COM O EVANGELHO.

Por fim, ainda convém dizer que a dúvida de João Batista se deu por que ele ainda alimentava em sua mente um Deus severo (apresentado a ele pelos seus catequistas de seu tempo). Ele ainda estava convencido de que a força de Deus deveria se manifestar através do fogo destruidor, ainda acreditava que o caniço rachado deveria ser quebrado definitivamente. Hoje nós sabemos que a manifestação de Deus, em Jesus, é muito diferente. 

Deixemos que o Espirito de Deus faça acontecer um recomeço movido pela esperança de coisas novas que não vemos entre os grandes e perversos, mas na lógica do Reino: os pequenos. Como batizados em Cristo, sigamos os passos de Jesus.

 

Boa semana!

 

Edjamir Silva Souza

Padre e Psicólogo

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