PALAVRA DO SENHOR – Os muitos sinais da ressurreição.
Essa é a maior proclamação
da fé cristã: Jesus Ressuscitou! Aleluia! A Oitava da Páscoa deste ano foi
vivenciada dentro de um misto de sentimentos de alegria (pela ressurreição do
Senhor), mas também de luto (pela morte do papa Francisco).
Nossa geração teve o
privilégio de ver e ouvir um papa muito humano, coerente e próximo dos
ensinamentos de Jesus. Ele representa os muitos seguidores de Cristo espalhados
nas nossas muitas comunidades eclesiais e os muitos homens e mulheres de boa
vontade espalhados no mundo.
O papa Francisco será sempre
lembrado pelos seus gestos e palavras (pascais) como o papa da misericórdia:
denunciou a idolatria do dinheiro (neoliberalismo), testemunhou a fraternidade,
clamou incansavelmente pela paz no mundo, pediu para que construíssemos pontes
e nunca muros. No processo de “restaurar a igreja” relembrou que faz parte do
“ser católico” “ser cristão”. E que ser cristão é simplesmente ser seguidor de
Jesus Cristo, é saber acolher a todos (nunca excluir ninguém).
Além de ter sido um grande
presente para toda a Igreja o papa Francisco foi um sinal de Deus aos nossos
tempos com tanta rivalidade, divisão, incoerência, ódio e guerras.
Por Providência Divina,
celebramos o Domingo da Misericórdia. A misericórdia é a face de Deus e a
eclesiologia que dá muito certo: Somos todos irmãos! Vamos meditar o evangelho
proposto para este domingo (João 20, 19-31).
“Os discípulos estão com
medo dos judeus” (v.19). O medo é uma realidade natural da vida humana, mas é
preciso ter muito cuidado, pois por causa disso os discípulos correm o risco de
se isolar do mundo e viverem à sombra dos fantasmas produzidos por ele:
covardia, imobilidade, fechamento. Esse é um tipo de medo que tem várias
consequências e se não for bem trabalhado pode gerar problemas na vida pessoal
e na evangelização: fanatismo, intolerância, isolamento.
O evangelho diz que a
comunidade estava reunida, o ressuscitado toma a iniciativa de ir ao encontro
dos discípulos e se põe no meio para tentar ajudar esta comunidade que está
temerosa. O evangelho não usa a imagem de Jesus atravessando portas ou algo
fantástico, mas usa a idéia de “estar no meio deles” e leva a paz (14, 27).
Esta é a mesma saudação que o sacerdote faz na missa: “A paz esteja convosco!”.
O ressuscitado é alguém que
sempre se faz presente na comunidade e lhe traz a paz. Em João 14, 28 o Senhor
havia prometido que “não vos deixareis órfãos. Eu virei a vós!”. O senhor promete e realiza sua Palavra e vem
ao encontro de sua igreja para confirmar seus ensinamentos.
“Mostrou-lhes as mãos e o
lado” (v.20a). São os sinais de seu amor. A “mão” está sempre ligada ao fazer
do Senhor, isto é, toda a obra do Senhor, mas também é a mão ferida. O “lado
aberto” faz lembrar a promessa (cf. Jo 7, 38) do dom do Espírito que será
derramado por Ele quando soprar o Espírito sobre todos.
Ao mostrar estes sinais
Jesus está revelando os sinais da paz que nascem na cruz: o amor de Jesus por
todos. É o amor de Jesus que afasta o temor: “no amor não há temor” (cf. 1Jo 4,
18). A igreja deve ser o lugar onde as pessoas devem experimentar o amor de
Jesus que traz a paz. A Igreja não pode ser lugar de abrir feridas, mas de
cuidar delas.
“Os discípulos se alegraram
ao verem o Senhor” (Jo 20, 20b). Essa é a alegria que havia sido prometida,
ainda na ultima ceia: “o vosso coração se alegrará. Agora ficareis tristes, mas
vocês se alegrarão” (cf. Jo 16,22).
“A paz esteja convosco. Como
o Pai me enviou eu vos envio” (v.21). A paz está acompanhada do envio e o dom
de perdoar os pecados. A Igreja foi enviada ao mundo para anunciar o
ressuscitado, o perdão dos pecados e a paz. O Pai envia o Filho e o Filho envia
os irmãos para realizar a mesma obra (v.21).
Os discípulos, no dom da
fidelidade, são enviados a revelar a face de Cristo ao mundo: “somos
embaixadores de Cristo” (2Cor 5, 20). Apresentar Jesus Crucificado-Ressuscitado
ao mundo é a tarefa dos discípulos/Igreja. E isso deve ser sempre sob a ótica
do lava-pés. A missão da Igreja não é de ser gloriosa, mas de apresentar o amor
de Deus que ela mesma experimentou.
“Soprou sobre eles e
receberam o Espirito Santo” (v.22). O envio missionário acontece no contexto do
sopro do Espírito. Em João 14,16-17. 26; 15, 26-27; 16, 7-11. 13-15; 7, 39. há
a promessa do Paráclito que sustentará a vida eclesial. Ele explicará a Palavra
do Senhor e o Espírito da Verdade os levará a compreender todas as coisas. É a
realização das promessas.
“Soprar” é a mesma ação da
criação quando Deus dá vida ao ser humano soprando sobre suas narinas. Na
ressurreição de Jesus há uma nova criação. É mediante o sopro do Espírito que a
criação é refeita. E nessa nova criação o ser humano tem acesso à vida eterna:
“e a vida eterna consiste em conhecer o Pai e aquele que Ele o enviou” (cf. Jo
17, 3).
“O poder de perdoar os
pecados” (cf. Jo 20, 23). Em João, o pecado não é um erro moral, mas rejeitar
que Jesus é o Messias Filho de Deus. Por isso, é preciso libertar as pessoas da
negação da fé em Cristo e reconhecê-Lo como Mistério de Deus Revelado. Assim,
elas são introduzidas na vida de Cristo. Esse tempo novo não está sob símbolo
da culpa, mas sob a realidade do perdão e a vida plena para todos.
“Tomé não estava” (cf. Jo
20,24s). A Igreja testemunha o ressuscitado, mas Tomé não está presente. E para
crer, ele coloca alguns critérios. Tomé representa uma parte dos cristãos que
não estão na comunidade e vivem a duvidar das coisas e colocar
critérios/condições para crer.
Ele quer fazer a experiência
pessoal do Ressuscitado (isso é bom), mas não se pode negar a experiência da
Igreja em função de um “eu só acredito vendo”. Ele quer “ver” e “tocar”, quer
submeter o Divino a juízo humano.
“Oito dias depois” (Jo 20,
26). Em cada domingo, primeiro dia da semana, dia da reunião litúrgica. Jesus
continua a fazer-se presente na vida da Igreja e a permitir que seus amigos
sejam libertados da incredulidade, sintam Sua presença e Seu conforto.
“Meu Senhor e meu Deus” (v.
28). Os sinais foram realizados pelo ressuscitado para garantir a igreja o seu
futuro e dar-lhe sua convicção de testemunhas do ressuscitado.
“Muitos sinais foram
realizados” (v. 30). Estes sinais continuam na vida da igreja e servem para que
a gente creia e tenhamos a salvação em Jesus Cristo.
“Bem aventurados os que
crerem sem ter visto” (v. 29). Papa Francisco ensinava que o contrário da fé
não era descrença, mas a idolatria e a indiferença. As pessoas de nosso tempo
se curvam muito facilmente aos ídolos deste mundo: o ouro e a prata. E,
facilmente, se acovarda por ter medo de ser diferente. Não se tem a esperança
suficiente de sair deste mundo de tanta idolatria para ir ao caminho do Reino
de Deus.
“Testemunhar Jesus” (cf. Jo
20). É ter a coragem de se deixar se envolver pelo evangelho e ir às pessoas. É
considerar que a nossa experiência pessoal de Deus é fundamental, mas que não
se pode negar a experiência de fé da vida da Igreja. O anúncio da Igreja não
exclui a experiência pessoal e nem a pessoal exclui a fé eclesial.
O papa Francisco será sempre
lembrado (pelos seus gestos e palavras) como o papa da misericórdia:
testemunhou a fraternidade, clamou incansavelmente pela paz no mundo, pediu
para que construíssemos pontes e nunca muros. Relembrou à Igreja que faz parte
do “ser católico” acolher a todos (nunca excluir ninguém).
É salutar para a nossa
espiritualidade uma “Igreja em saída”...que se move...que vai ao encontro dos
outros e é capaz de perceber os sinais da ressurreição na vida dos outros. Esse
é o mandato: “Ide”
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo.
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