PALAVRA DO SENHOR – Viver à altura do Coração de Jesus.
O 5º Domingo da Páscoa ainda nos provoca a perceber os sinais
da ressurreição. E neste domingo há algumas expressões como caminho de
entendimento dos sinais pascais: honra, glória e amor.
O evangelho proposto para este domingo (Jo 13, 31-33a.34-35)
nos leva ao cenário da última ceia. Após Judas sair da cena, o Mestre reconhece
que chegou a “hora” de sua partida e dá as últimas instruções àqueles que Ele
chamou de amigos: “não vos chamo servos, mas amigos” (cf Jo 15, 14-15).
Até esse momento Jesus faz uma tentativa de oferecer seu amor
ao discípulo que o trairá: oferece-lhe pão (sua vida), mas Judas não assimila
Jesus, toma o pão e sai. O evangelista diz que Judas afundou na noite (Jo 13,
26ss) para dizer da situação deste discípulo: saiu par trair Jesus.
No amor incondicional de Jesus, também oferecido ao inimigo,
a glória de Deus se manifesta. Como é bonito o que evangelista João nos ensina
aqui: a glória é a manifestação visível do que Deus é. E o que Ele é? “Deus é
amor” (1Jo 4, 8). O FILHO DE DEUS, NA CONDIÇÃO HUMANA, NOS REVELA A GLÓRIA DO
PAI.
Mateus e João fundamentam a honra de Jesus na revelação das
origens de Jesus. Mas, diferente de Mateus, João não se baseia em declarações
acerca da linhagem humana de Jesus ou de sua cidade de origem. A honra de Jesus
não é assegurada pela descendência da nobre casa de Davi. Em João, até se
registra o “preconceito” que se tem de Nazaré (1, 46) onde Jesus passou boa
parte de sua vida. E nem reivindica o fato de ter nascido em Belém; mas, ao
contrário, João concentra-se em dizer a origem de Jesus numa origem celestial
(Jo 1,1-18. 3, 31. 8, 23). Portanto, a honra de Jesus não é atribuída à
descendência de Filho de Davi, mas como “Filho de Deus que veio na carne” (1Jo
4, 2).
João deixa claro que a honra de Jesus se dá pelo papel de ser
mediador da graça do Pai, ter acesso ao Pai por meio de Jesus, algo que Moisés
não tinha (cf Jo 14, 6-7), tem um conhecimento superior (cf. Jo 1,14), vem do
céu (Jo 1. 3,13. 6,33-35. 38. 6,48), é dispensador dos mistérios do Pai (cf. Jo
6, 14), salvador do mundo (cf Jo 4, 42).
Semelhante a Mateus, João usa temas que transformam a
crucifixão em uma morte digna: corajoso, voluntarioso e em prol dos outros.
Mas, João vai além ao apresentar o episódio da cruz como “glorificação de Jesus
e do Pai” (cf Jo 13, 31-32).
“Dou-vos um mandamento novo” (Jo 13, 34ss). Naquela última
ceia, ao se despedir, Jesus não deixa nenhum contorcionismo teológico, mas um
mandamento: “amar como ele amou”. Não é mais um a ser agregado aos mandamentos
de Moisés, mas o mandamento por excelência: “a lei foi dada por Moisés, mas a
graça e a verdade por Jesus Cristo” (Jo 1, 17).
A qualidade desse mandamento é a nova e autêntica maneira do
discípulo se relacionar com o Pai e uns com os outros “Todos saberão que vocês
são meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros!” (Jo 13, 35).
A última ceia e a cruz são um convite ao discípulo despir-se
das horas humanas para assumir um amor encarnado, corajoso, capaz de
ajoelhar-se para lavar pés e de enfrentar o martírio sem negar a luta e o
direito a justiça a todos.
João traça um nítido contraste entre procurar receber a honra
das pessoas e a honra que vem de Deus. Quem procura a honra das pessoas tem a
necessidade da aprovação de si mesmo e impede de confiar em Jesus: “Como
podereis crer, vós que recebereis honra uns dos outros e não procurais a honra
que vem de Deus” (5,44). A glória e o esplendor de Deus não estão na lógica de
uma pessoa bem sucedida, mas em sua aparente fragilidade: sua capacidade de
amar.
João procura confrontar os leitores com certa oposição:
preocupar-se com a própria reputação perante os outros ou preocupar-se com a
glória perante o tribunal de Deus. E, certamente, ele consegue nos levar a um
mal-estar, pois é muito difícil encontrar alguém que, narcisicamente, não
almeja aprovação e as honrarias dos outros.
Para compreender o “Mistério do Verbo Encarnado” é preciso se
colocar a altura do coração de Jesus. O discípulo amado inclina-se para ouvir o
que há no coração de Jesus e ali percebe que o que está Naquele coração é o
desejo inspirador que nos amemos a partir de seu próprio exemplo.
Qual é o sinal do ressuscitado que contemplamos neste
domingo? O teólogo José Maria Castillo diz “aquele que ama o ser humano, seja
quem for, este é o que ama a Deus”. Jesus nos amou em nossa humanidade e nos
amou como amigos, não como servos (cf. Jo 15,15), como servidor que dá a vida
para que outros tenham vida (Mc 10,45.), abertura e acolhendo a todos.
A partir desta reflexão podemos nos perguntar: o modo como
vivemos hoje em nossas comunidades dá testemunho de um amor-amizade que acolhe
a todos ou nos tornamos usuários de um templo sem compromisso com o Reino de
Deus? Nossas palavras e gestos nos identificam imediatamente como seguidores de
Jesus? A Igreja é um mandamento novo do amor ou continua a se reafirmar com o
fardo do Antigo Testamento? Pensemos com carinho...
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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