PALAVRA DO SENHOR – No dom e na força do Espírito.
Com esta liturgia concluímos o Tempo da Páscoa, mas ainda
continuamos a contemplar os sinais da presença do Ressuscitado. No dom do
Espírito comemoramos as promessas realizadas em Jesus Cristo, o nascimento da
Igreja e o surgimento de uma nova eclesiologia baseada não na Lei de Moisés,
mas na ação do Espírito Santo.
A eclesiologia que nasce no dom do Espírito tem sua origem
com os profetas. Isaías fez referências indiretas à vinda do Espírito Santo
descrevendo-O como força divina que repousaria sobre o Messias para capacitá-Lo
a cumprir Sua missão (cf. Is 11, 22. 61. 1-3. 44,3. 42. 1). E aos seus
seguidores com dons espirituais para o cumprimento das promessas de Deus e a
realização da salvação.
A vinda do Espírito é, ainda, descrita pelos profetas:
Ezequiel (39,29) e Zacarias (12, 10). Essas profecias declararam que o Espírito
Santo seria dado para a restauração, comunhão e consolo do povo de Deus. Agora, vejamos o seu cumprimento...
No evangelho de Lucas o Espírito Santo é muito atuante: No
cap. 1, 35, o anjo diz a Maria que o Espírito Santo vira sobre ela e o Poder do
Altíssima a cobrirá, pois nela nascerá o Filho de Deus. No cap. 3, 21-22, Jesus
é batizado, o céu se abre, o Espírito Santo desce sobre ele na forma de uma
pomba, e uma voz do céu diz: “Tu és meu Filho amado, em ti me agrado” (cf. Mt
3, 13-17. Mc 1, 9-11). No cap. 4, 18-30, Jesus aplica sobre si a ação do
Espírito e a sua força missionária. É A CONFIRMAÇÃO QUE O MESSIAS CHEGOU.
Em João (1 ,32-34), João Batista testemunha que viu o
Espírito descer sobre Jesus confirmando que ele é o Filho de Deus. Em João (20,
19-23), Jesus envia o Paráclito à Igreja nascente. O Espírito Santo é essa
“força do alto” que libera energia de amor.
Em Atos (2, 1-36) encontramos a comunidade reunida, sobre a
qual vem o Espírito Santo e, em seguida, Pedro fazendo um discurso como
programa missionário. Desse modo, Pentecostes, deve ser lido à luz do
Pentecostes de Jesus (cf. Lc 3, 21-22. 4,14-30.Jo 1,32-34). Animados pelo mesmo
Espírito que ungiu Jesus, a Igreja anuncia Jesus – Vivo, Senhor e Cristo –
seguindo o mesmo programa messiânico dele.
“Creio no Espírito Santo” essa é a nossa resposta às
profecias quando solenemente proclamamos a nossa fé na ação do Espírito de
Deus. Desde o início, crer e testemunhar são a identidade de nossa fé:
“Recebereis a força do Espírito Santo e sereis as minhas testemunhas (...) até
os confins da terra”(At 1, 8).
É na força do Espírito que acontece a capacitação dos
evangelizadores e o anúncio é feito (cf. 1Cor 12,4s). Mas, tenhamos cuidado,
pois Pentecostes não é um evento da espiritualidade de um único grupo, mas ação
de Deus na vida de toda a Igreja. Não cometamos o mesmo erro de um
evangelizador que, certa vez, rezando o terço da misericórdia com alguns
devotos diante do sacrário, dizia ao seu público: “graças a Deus que a Igreja
no Brasil abriu as portas para a espiritualidade de nosso grupo. Nosso grupo vai
salvar a Igreja” (Sic). É importante dizer aos que alimentam tal presunção que
JESUS JA NOS SALVOU.
Foi por causa dessas especificidades que o apóstolo Paulo
escreveu: “Quando alguém diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro diz ’Eu sou de Apolo’,
não está agindo meramente com critérios humanos? Afinal de contas, quem é
Apolo? Quem é Paulo? Apenas servos por meio dos quais vocês vieram a crer
(...). É Deus quem dá o crescimento” (1Cor 3, 4-6). Portanto, “ninguém se
glorie nos homens, pois vocês são de Cristo e Cristo é de Deus” (v. 21-23).
“O Espírito sopra onde quer” (cf. Jo 3,8), mas sempre em
coerência e consonância com a Boa Nova do Reino. Contudo, é aos mais fracos e
excluídos que o Espírito se torna fortaleza e defensor. O Espírito continua sem
cessar presente no mundo, mesmo enfrentando resistências.
“Veio do céu um forte barulho, como uma ventania, e encheu a
casa” (Atos 2, 1-4). Vento e fogo lembram as manifestações de Deus no Antigo
Testamento, particularmente no episódio da conclusão da Aliança (cf. Ex 14,21.
19,18). O que encheu a casa não foi o vento, mas o som/voz. E o que será que
esta voz disse naquela casa?
O fogo lembra o episódio da Aliança de Deus com Abraão quando
entre os animais passava o fogo devorador (cf. Gn 15,17-18). Depois, quando
Deus se manifestou a Moisés na sarça ardente (cf. Ex 3,2). Outro episódio se
deu com o Elias ao subir aos céus dentro de um redemoinho numa carruagem puxada
por cavalos de fogo (cf. 2Rs 2, 10-20). João Batista diz que ele batizava com
água, mas viria alguém que batizaria no Espírito e no fogo (cf. Mt 3, 11. Mc 1,
7. Lc 3,16). Jesus disse que veio trazer fogo sobre a terra para a purificação
dos pecados (cf Lc 12, 49). É A AÇÃO DE DEUS NA VIDA DO POVO.
Casa reunida é o lugar da manifestação de Deus. É a
eclesiologia do Novo Testamento que acontece em tons de familiaridade (cf. Jo
15,15). Uma família unida, uma comunidade unida, casa de irmãos, escuta a voz
do Senhor e recebe o dom do Espírito (cf. At 2, 3-4).
Receber o dom do Espirito é receber a diversidade de dons e
carismas que sustentam a unidade da casa (cf. 1Cor 12, 4-20). A comunidade é
composta de muitos membros cheios de dons para o serviço do Reino de Deus.
“Falava em nossa própria língua” (At 2, 6-8). É a dimensão
comunicativa. O Espírito Santo capacita cada um a declarar, depois do silêncio
e portas fechadas, com sua própria boca a sua fé em Jesus Cristo. É fundamental
uma linguagem audível e forte na pregação do Evangelho a todas as nações. Deus
procura a melhor maneira de se comunicar com todos e faz os seus usarem a
melhor linguagem.
“Confusão e admiração (...).” Este episódio difere das
reações do episódio da Torre de Babel. Em Babel, na uniformidade, ninguém se
compreendia mais e não havia harmonia (cf Gn 11,7-9), mas aqui, na diversidade
(cf. At 2. 5 6) o espanto se refere pela compreensão e a harmonia (cf. At 2,
8).
Na eclesiologia do Espírito, o Senhor quer a unidade
respeitando a diversidade. Enquanto que a lei tenta uniformizar e enquadrar o
Espirito une por outra via: a unidade na diversidade.
Anunciar o evangelho é a principal profecia que se realiza no
Espírito. E cada membro da Igreja há de declarar ao mundo quem é Jesus: em
Jesus somos perdoados e amados. E com o Espírito, dizemos: “Vem, Senhor
Jesus!”.
Boa semana!
Edjamir Silva Souza
Padre e Psicólogo
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