EUA aplicam sanção contra Alexandre de Moraes por ação do 8 de janeiro. Governo Trump alega ainda que Moraes viola liberdade de expressão.
Às vésperas do início do
tarifaço contra o Brasil, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros
(OFAC) dos Estados Unidos (EUA) aplicou uma sanção contra o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O órgão do Departamento de
Tesouro do país norte-americano acusa Moraes de violar a liberdade de expressão
e autorizar “prisões arbitrárias”, citando o julgamento da tentativa de golpe
de Estado e decisões contra empresas de mídia social estadunidenses.
“Moraes é responsável por
uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos
humanos e processos politizados – inclusive contra o ex-presidente Jair
Bolsonaro. A ação de hoje deixa claro que o Tesouro continuará a
responsabilizar aqueles que ameaçam os interesses dos EUA e as liberdades de
nossos cidadãos”, disse o Secretário do Tesouro, Scott Bessent.
Versão
O governo estadunidense
repete a versão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que afirma ser perseguido pelo
processo que enfrenta acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado no
Brasil.
Segundo a denúncia,
Bolsonaro pressionou comandantes militares para suspender o resultado da
eleição presidencial de outubro de 2022, quando perdeu para o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
O OFAC usou, como base, a
Lei Magnitsky, usada para punir supostos violadores de direitos humanos no
exterior. A medida bloqueia bens e empresas dos alvos da sanção nos EUA.
Caso Moraes tenha empresas
ou controle, com 50% ou mais, companhias nos EUA, elas serão bloqueadas.
Mídias sociais
Além do processo contra os
golpistas de 8 de janeiro de 2023, o escritório do governo estadunidense cita
como motivação da sanção as decisões que Moraes tomou contra mídias sociais
estadunidenses ligadas ao presidente Donald Trump.
“Ele também emitiu ordens
diretamente a empresas de mídia social dos EUA para bloquear ou remover centenas
de contas, muitas vezes de seus críticos e outros críticos do governo
brasileiro, incluindo cidadãos americanos”, disse a OFAC.
Em fevereiro deste ano,
Moraes mandou suspender a Rumble, rede social da Trump Media & Tecnology
Group (TMTG), dona também da Truth Social. A companhia foi suspensa por não
apresentar representante legal no Brasil, uma exigência da legislação nacional.
Em agosto de 2024, Moraes
suspendeu a plataforma X, também sediada nos EUA, por descumprir decisões
judiciais e não apresentar representante legal.
Liberdade de expressão
O Departamento de Tesouro
dos EUA acusa Moraes de violar a liberdade de expressão no Brasil e nos Estados
Unidos. “Por meio de suas ações como ministro do STF, de Moraes minou os
direitos de brasileiros e americanos à liberdade de expressão.”, comentou a
OFAC.
O órgão do governo Trump diz
que Moraes teria determinado “prisões preventivas sem acusações”; prisão de um
jornalista e usuários de mídia “em retaliação por exercer liberdade de
expressão”. Porém, a OFAC não especifica que casos foram esses.
Analistas consulados pela
Agência Brasil vem alertando que a extrema-direita, tanto no Brasil, quanto nos
Estados Unidos, vem distorcendo a realidade dos processos judiciais no Brasil
para sustentar que o país vive um clima de censura e perseguição.
“[Essa estratégia] tem como
objetivo tentar desmoralizar as investigações de responsabilizações contra os
ataques ao Estado Democrático de Direito do Brasil com informações incompletas
e superficiais sobre a realidade brasileira”, afirmou Pedro Kelson, do Programa
de Democracia da Washington Brazil Office (WBO).
Democracia
A professora de direito constitucional
da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE) Flávia Santiago destacou que não
existe, em nenhuma democracia do mundo, uma liberdade de expressão ilimitada.
“Por atuar dentro do Brasil,
a plataforma está sujeita às leis e decisões judiciais do país. Cada democracia
estabelece os seus limites. A democracia brasileira tem limites e um deles é
não pôr em dúvida as próprias instituições democráticas. Isso faz parte da
nossa proposta de democracia que está na Constituição de 1988”, explicou.
Muitos dos perfis suspensos
por Moraes estão envolvidos nos inquéritos que apuram crimes como a abolição
violenta do Estado democrático de direito, que está tipificado na Lei 14.197 de
2021.
“No Brasil, a ‘liberdade de
expressão’ encontra limites na proteção de outros bens jurídicos individuais,
como a honra; ou coletivos, como a segurança e o equilíbrio eleitoral. Além
disso, o Judiciário brasileiro tem respaldo legal e independência judicial para
determinar o bloqueio a perfis e postagens nas redes sociais”, argumentou Fábio
de Sá e Silva, pesquisador associado do WBO.
Ainda segundo o
especialista, perfis ou postagens que sejam usadas para cometer crimes, como o
incentivo a golpe de Estado, pedofilia ou exploração sexual de crianças, podem
ser derrubados de acordo com a lei brasileira.
Nos EUA, por exemplo,
pode-se fundar um partido nazista, que defenda a superioridade racial. No
Brasil, tanto racismo quanto a defesa de uma ideologia nazista são crimes.
Agência Brasil
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