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'Babaca', 'erro estratégico' e 'não podemos perder isso': ouça os áudios de Malafaia para Bolsonaro.


Malafaia foi detido pela Polícia Federal ao desembarcar no aeroporto do Galeão e prestou depoimento aos agentes.

A Polícia Federal obteve dois áudios enviados pelo pastor Silas Malafaia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no âmbito da investigação que apura a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. Em uma das gravações, o líder religioso diz que o filho do ex-presidente é um "babaca" e acrescenta: "a próxima que você fizer, eu gravo um vídeo e te arrebento". Na outra gravação, o pastor diz que Bolsonaro pediu ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, para que ele falasse com a embaixada dos EUA.

— A faca e o queijo estão na tua mão, cacete, e nós não podemos perder isso, pô. E vem o teu filho babaca falar merda, dando discurso nacionalista, que eu sei que você não é a favor isso. Dei um esporro, cara, mandei um áudio para ele de arrombar. E disse para ele: "a próxima que você fizer, eu gravo um vídeo e te arrebento". Falei para o Eduardo.

Os áudios foram encontrados pela Polícia Federal (PF) no celular de Bolsonaro e enviados nesta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF), junto com o relatório no qual o ex-presidente e seu filho foram indiciados por coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.

No mesmo áudio, Malafaia elogia outro filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por vincular a discussão sobre a tarifas à anistia a investigados por atos antidemocráticos.

— Dá parabéns ao Flávio, pô. Falou certo na GloboNews: "eu não sou a favor da taxação, não, mas tem que sentar para conversar sobre anistia". A carta do Trump é para você.

Em outro áudio obtido pela PF, Malafaia disse ao ex-presidente saber que ele pediu ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para que se reunisse com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e com "uma embaixada". Em resposta, Bolsonaro nega a orientação ao governador e diz que ele mesmo tinha o contato direto do encarregado de Negócios da Casa Branca, Gabriel Escobar.

Em entrevista ao Poder 360, Bolsonaro enalteceu o governador e disse que era "obrigação de Tarcísio defender o seu estado" contra os efeitos econômicos gerado pelo tarifaço do governo americano aos produtos brasileiros. O governador de São Paulo havia se reunido com diplomatas e representantes da Embaixada dos EUA, como Escobar, buscando soluções. Ao GLOBO, Eduardo criticou a iniciativa do governador.

Dias antes, diante de notícias de que teria pedido a Gilmar Mendes que conseguisse a liberação do passaporte de Bolsonaro para que ele fosse aos Estados Unidos negociar com o presidente americano, Tarcísio negou a possibilidade. O diálogo pela liberação do passaporte também foi criticado por Eduardo. De acordo com Malafaia, as duas agendas do governador foram feita a pedido de Bolsonaro.

— Presidente, me desculpa. Você até podia defender Tarcísio, já que foi você quem mandou Tarcísio na embaixada e falar com Gilmar. Agora, queimar seu garoto, você vai me desculpar. Isso é um erro estratégico de alto grau, você tem que olhar o trabalho que seu filho está fazendo, falando com os principais assessores de Donald Trump — afirmou.

Alvo no aeroporto do Galeão

Malafaia foi alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal após desembarcar no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Ele retornava de um voo de Lisboa. Segundo decisão do ministro Alexandre de Moraes, as condutas do pastor, "em vínculo subjetivo" com o ex-presidente, "caracterizam claros e expressos atos executórios" dos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa.

Também nesta quarta-feira, a PF indiciou Bolsonaro e o filho Eduardo por coação no âmbito desta mesma investigação que atinge Malafaia. Moraes determinou no mês passado que o ex-presidente use tornozeleira eletrônica e proibiu o contato com autoridades estrangeiras e com Eduardo.

Os dois são alvos da mesma apuração sobre suposta atuação nos Estados Unidos para coagir integrantes da Corte em troca de perdão pela tentativa de golpe de Estado. Posteriormente, Bolsonaro passou a cumprir prisão domiciliar depois de participar por telefone de manifestações de apoiadores em diversas capitais. A ação foi vista por Moraes como um descumprimento das medidas cautelares impostas ao ex-presidente.

"Não há dúvidas de que houve o descumprimento da medida cautelar imposta a Jair Messias Bolsonaro, pois o réu produziu material para publicação nas redes sociais de seus três filhos e de todos os seus seguidores e apoiadores políticos, com claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao Supremo Tribunal Federal", escreveu o ministro na decisão sobre a prisão domiciliar.

Eduardo Bolsonaro tem se movimentado nos Estados Unidos com o objetivo de pressionar o STF diante do julgamento do pai por tentativa de golpe de Estado.

 

Por O Globo

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