Manifestações em quatro cidades pedem ampliação da licença-paternidade.
Pais e familiares pedem
aumento para 30 dias de licença
Manifestações e passeatas
realizadas simultaneamente neste sábado (9) em São Paulo, em Brasília, no
Recife e no Rio de Janeiro reuniram pais, mães e crianças para chamar a atenção
para a necessidade de aumentar a licença-paternidade para 30 dias. Os atos foram
organizados pela Coalizão Licença Paternidade (CoPai), que chama a atenção para
o fato de que os cinco dias de licença-paternidade eram para ser temporários,
mas em 37 anos não houve regulamentação.
Atualmente, a licença para
pais é de cinco dias consecutivos nos casos de nascimento de filho, adoção ou
de guarda compartilhada. O direito está previsto na Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT) e foi criado com a promulgação da Constituição de 1988.
Entretanto, em dezembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF), deu um prazo
de 18 meses para que o Congresso regulamente a licença-paternidade. O prazo
venceu em julho e a previsão é a de que o parlamento trate do tema na volta do
recesso.
A decisão do STF veio após
julgamento de uma ação apresentada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Saúde (CNTS). Prevaleceu no julgamento o voto do ministro Luís Roberto
Barroso para reconhecer a omissão do Congresso em aprovar a regulamentação da
norma. O entendimento foi seguido pelos demais ministros.
Para a presidente da
Coalizão Licença-Paternidade (CoPai), Camila Bruzzi, a presença paterna nos
primeiros meses de vida dos bebês é fundamental e, uma licença-paternidade
ampliada traz impactos duradouros e que beneficia a todos: a criança, a mãe, o
próprio pai, a família, as empresas e toda a sociedade.
“A licença-paternidade
ampliada de verdade promove uma transformação cultural e faz com que os pais
passem a participar mais do cuidado dos filhos de uma forma permanente. Dados
internacionais demonstram que quando pais têm licença-paternidade prolongada,
desenvolvem vínculos profundos com o bebê, picos de ocitocina e mudanças no
cérebro que os tornam mais acolhedores e pacientes”, explicou.
De acordo com a CoPai, já há
estudos indicando” que a ampliação da licença-paternidade reduz a sobrecarga
materna, melhora o desenvolvimento infantil, pode ajudar a prevenir violência e
uso de drogas na adolescência, e tem custo mínimo, sendo menos de 1% da
previdência. Empresas que já adotam uma licença-paternidade ampliada relatam
aumento da produtividade dos funcionários em seu retorno”, diz a organização.
Segundo a pesquisa Datafolha, 76% dos brasileiros apoiam a ampliação da
licença-paternidade.
Embaixador da CoPai, Tadeu
França, ressalta que o país enfrenta uma dificuldade cultural que nutre a ideia
de que pai é só o provedor e só sai para colocar dinheiro na casa.
“Isso sobrecarrega mulheres,
mães, o tempo inteiro, há muitos anos. E esse movimento vem para reforçar que a
presença do pai, principalmente nesses primeiros dias de vida da criança, é
fundamental para o desenvolvimento dela e para o nosso desenvolvimento também,
tanto como homem, quanto como cuidador”, reforça.
Também embaixador da CoPai,
o jornalista Felipe Andreoli é um dos apoiadores da causa. Ele conta que quando
foi pai pela primeira vez não pode ter uma licença-paternidade mais longa e
isso foi doloroso. “Na segunda vez como pai pude desfrutar de mais tempo ao
lado do meu bebê e da minha mulher e por isso sou totalmente defensor da
ampliação da licença-paternidade de no mínimo 30 dias no Brasil”, afirma.
Lei
O Projeto de Lei (PL)
6.216/2023 da Câmara (assim como o 3.773/2023 do Senado) propõe a ampliação da
licença-paternidade para 30 dias e seu aumento progressivo para 60 dias ao
longo de 5 anos. O 3.773/2023, que tramita no Senado, adotou o mesmo texto após
articulações da Frente Parlamentar Mista pela Licença-Paternidade que trata do
tema no Congresso, criada em 2024.
“A Frente Parlamentar tem
mais de 250 deputados(as) e Senadores, de partidos dos diversos espectros
políticos. Ela une de esquerda à direita e mostra que é um projeto de toda a
sociedade, sem viés político”, destaca a Presidente Adjunta da CoPai e
Secretária Executiva da Frente Parlamentar Mista pela Licença-Paternidade,
Caroline Burle.
Sociedade Brasileira de
Pediatria
No último dia 10, a
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) divulgou uma carta aberta a
parlamentares brasileiros pedindo a aprovação de projetos de lei que tratam da
ampliação da licença-paternidade. A entidade aponta que soma forças junto à
Coalizão Licença Paternidade (CoPai), que reúne especialistas, organizações da
sociedade civil e entidades científicas em defesa da parentalidade ativa como
estratégia de desenvolvimento humano e justiça social.
Para os pediatras, o modelo
vigente no Brasil, que concede apenas cinco dias de licença ao pai, está em
desacordo com evidências científicas que tratam dos benefícios da presença
paterna nos primeiros dias de vida do bebê. A carta cita estudos que ressaltam
efeitos positivos de uma licença paternidade de quatro semanas. Entre eles está
a possibilidade de apoiar o aleitamento materno e contribuir com o
desenvolvimento neuro-cognitivo dos bebês. “Garantir o início da vida com
presença, afeto e suporte é uma responsabilidade compartilhada”, diz a carta.
O documento destaca ainda
que diversos países já adotam modelos de licença parental compartilhada, que
permitem a divisão flexível do tempo de cuidado entre mães e pais.
“Licença-paternidade não é luxo. É cuidado, é saúde, é desenvolvimento. E,
sobretudo, é um direito de crianças e famílias que desejam começar a vida com
mais afeto, apoio e dignidade”, conclui a SBP.
Agência Brasil
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