Paraíba registra 20 feminicídios de janeiro a julho de 2025
Foram 3 feminicídios
registrados no mês de janeiro, seis no mês de fevereiro, mais três em março, 2
em abril, 3 em maio, 2 em junho e 1 em julho.
A Paraíba registrou 20
feminicídios de janeiro a julho de 2025. Foi apenas um feminicídio a mais do
que o registrado em todo o primeiro semestre, quando a quantidade de casos foi
a segunda pior dos últimos dez anos.
De janeiro a julho de 2025,
a Paraíba registrou os 20 feminicídios em diferentes cidades, de acordo com o
Ministério da Justiça e Segurança Pública. Foram 3 feminicídios registrados no
mês de janeiro, seis no mês de fevereiro, mais três em março, 2 em abril, 3 em
maio, 2 em junho e 1 em julho.
Para a pesquisadora de
gênero, Glória Rabay, vários fatores influenciam a manutenção de números ainda
altos. "Um fator é cultural, porque a lei, em si, não vai fazer diminuir
nada, porque existem muitos fatores que explicam a violência contra as
mulheres, fatores culturais, do machismo, e a gente tem visto um crescimento de
práticas misóginas nos últimos anos, com o avanço da direita no Brasil, a gente
tem visto que os discursos de misoginia, de ódio contra as mulheres, eles têm
se proliferado fundamentalmente nas redes sociais", explica a
pesquisadora.
Os casos registrados até o
momento, em 2025, aconteceram em Cajazeiras, Coremas, Araçagi, Cacimba de
Dentro, Campina Grande, Conde, Cuité, Itaporanga, João Pessoa, Mulungu, Patos e
Pilões, Pombal, Santa Rita, Solânea e Marizópolis.
Glória Rabay ressalta, portanto,
que a prática do feminicídio não está restrita a um determinado território.
"Embora sejam as mulheres pretas, pobres, periféricas, as maiores vítimas,
a gente vai encontrar vítimas com qualquer característica social. Da mesma
forma, a gente vai encontrar homens violentos em qualquer lugar da sociedade,
sejam pessoas pobres, sejam pessoas com recursos, sejam homens brancos, sejam
homens pretos, porque a cultura machista está disseminada por toda a sociedade,
não está apenas em um determinado núcleo, determinada bolha. Isso explica
porque os casos de feminicídio estão espalhados em todo o território",
detalha.
Nos primeiros sete meses do
ano, 20 mulheres foram assassinadas por motivação de gênero, 30 foram vítimas
de homicídio doloso e duas foram vítimas de latrocínio.
Em março de 2015, a Lei nº
13.104 foi sancionada incluindo o feminicídio no rol dos crimes hediondos. Em
2024, uma nova legislação, a Lei 14.994, tornou o feminicídio um crime autônomo
e estabeleceu outras medidas para prevenir e coibir a violência contra a
mulher. Conforme a lei, o feminicídio é o assassinato de mulheres por razões da
condição do sexo feminino.
Considera-se que há razões
de condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e
familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A pena para os
condenados pelo crime de feminicídio pode chegar 40 anos de prisão, maior do
que a incidente sobre o de homicídio qualificado (12 a 30 anos de reclusão).
A pesquisadora Glória Rabay
avalia como um passo positivo e essencial para conscientização da população
sobre a violência de gênero.
"Eu penso que a Lei do
Feminicídio foi um grande passo para que a gente possa observar esse tipo de
acontecimento, esse tipo de violência, porque agora a gente tem um nome para
dizer: 'essa mulher foi morta porque é mulher. Ela foi atingida na sua
característica, no seu gênero, um gênero do qual se espera a subserviência e
ela teve a ousadia de dizer não'. Então ela foi atingida por isso. O
feminicídio não é um fenômeno recente, ele é um fenômeno que há muito tempo
acontece, só que a gente não dava esse nome. Então quando a gente dá o nome
certo, isso ressalta, isso aparece com mais força. Eu acho que o único caminho
para diminuir o feminicídio é o processo educativo, é através da
educação", reforça a pesquisadora Glória Rabay.
Ela explica que esse
processo educativo contra o feminicídio não é de responsabilidade única da
escola, embora seja um lugar muito importante. O processo educativo é de toda a
sociedade. "Ele deve acontecer na escola, deve acontecer na mídia, deve
acontecer nas igrejas, deve acontecer na família, ou seja, em qualquer espaço.
É inadmissível que empresas, por exemplo, do setor privado, permitam práticas
misóginas, ou seja, essas práticas que reforçam a impressão de que as mulheres
devem ser subservientes. Elas alimentam o machismo, que por sua vez alimenta o
feminicídio. A responsabilidade contra essa prática é de toda a
sociedade", explica a pesquisadora.
Feminicídios em 2024
Em 2024, 25 mulheres foram assassinadas
na Paraíba, simplesmente, por serem mulheres. Cerca de duas mulheres foram
vítimas de feminicídio por mês no estado.
O acompanhamento do g1 é
feito mês a mês com base em dados da Secretaria da Segurança e da Defesa Social
(Seds) solicitados via Lei de Acesso à Informação.
Apesar do número do ano
passado ainda ser alto, em relação a 2023, houve uma queda de 26,47% no número
de casos, quando 34 feminicídios foram contabilizados no estado.
Avaliando mês a mês, o
período do ano mais violento para mulheres foram os meses de fevereiro e
setembro, com 4 e 5 feminicídios, respectivamente. Houve apenas um mês (agosto)
em que nenhum feminicídio foi registrado.
Os crimes aconteceram nas
cidades de João Pessoa (4), Campina Grande (2), Marizópolis (2), Patos (2),
Aparecida (1), Bonito de Santa Fé (1), Cabedelo (1), Fagundes (1), Itaporanga
(1), Malta (1), Massaranduba (1), Montadas (1), Monteiro (1), Nova Floresta
(1), Paulista (1), Santa Rita (1), São José de Piranhas (1), São Vicente do
Seridó (1) e Sousa (1).
Conforme o levantamento do
Núcleo de Dados da Rede Paraíba de Comunicação, a maioria dos crimes foi
cometido por homens que mantinham ou mantiveram algum tipo de relacionamento
com a vítima. Além disso, a maioria das mulheres foi assassinada por disparos
de arma de fogo.
Além dos feminicídios, 41
mulheres foram vítimas de homicídios dolosos.
Por Dani Fechine, g1 PB
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