Conselho de Ética abre processo contra Eduardo Bolsonaro.
Este é o primeiro passo do procedimento que pode levar à
cassação do deputado. Eduardo é acusado de atuar contra o país e incentivar
autoridades dos EUA a aplicar sanções; PGR apresentou denúncia nesta segunda
(22).
O Conselho de Ética da Câmara abriu nesta terça-feira (23) um
processo que pode levar à cassação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por condutas
incompatíveis com o mandato parlamentar.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é alvo de uma
queixa que o acusa de trabalhar em defesa de sanções dos Estados Unidos para
"desestabilizar instituições republicanas" do Brasil.
Eleito por São Paulo, o deputado mora nos EUA desde o início
deste ano. Ele tem se reunido com lideranças americanas e é apontado como um
dos incentivadores das sanções econômicas do governo norte-americano contra
autoridades e produtos brasileiros.
O processo, instaurado a pedido do PT, avaliará se há
elementos para que Eduardo tenha o mandato cassado por quebra de decoro.
A abertura é a primeira fase do procedimento no Conselho de
Ética. O presidente do órgão, Fabio Schiochet (União-SC), escolherá um deputado
para relatar o caso até esta sexta-feira (26).
Os potenciais relatores, sorteados nesta terça, são: Duda
Salabert (PDT-MG); Paulo Lemos (PSOL-AP); e Delegado Marcelo Freitas
(União-MG).
Após a definição do nome, uma série de prazos começa a contar.
As regras internas da Câmara estabelecem que um procedimento
deste tipo pode durar até 90 dias úteis. Membros do Conselho de Ética avaliam,
porém, que a análise deve ocorrer em menos tempo.
Fabio Schiochet afirmou, depois de ser questionado pelo
deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que a abertura do procedimento cumpre o
"papel" do Conselho de Ética.
"O papel do Conselho de Ética é receber toda e qualquer
denúncia. Nós também não podemos prevaricar. De maneira nenhuma nós poderíamos
deixar de fazer o nosso papel aqui em abrir o processo, senão todos nós aqui
estaríamos prevaricando", disse o parlamentar.
Mandato em jogo
A formalização do processo no Conselho de Ética é mais um
elemento de pressão contra o mandato de Eduardo. Desde agosto, ele tem
contabilizado faltas injustificadas e corre o risco de ser cassado por excesso
de ausências.
Em uma manobra, aliados da família Bolsonaro tentaram
recorrer a um entendimento da direção da Câmara, que abona faltas para
parlamentares em cargos de liderança, e indicaram Eduardo para exercer a
liderança da minoria.
A tática foi frustrada nesta terça por uma decisão do
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que rejeitou a indicação.
Com isso, Motta abriu caminho para que as faltas de Eduardo Bolsonaro continuem
sendo contabilizadas.
Na prática, o mandato de Eduardo Bolsonaro estará em jogos em
duas frentes:
>uma cassação por condutas contra o decoro parlamentar;
>e uma cassação por excesso de faltas.
Enquanto o Conselho de Ética discute a primeira hipótese, a
segunda ficará em segundo plano e deve ser discutida apenas em 2026 (entenda
mais nesta reportagem).
Denúncia no STF
As complicações de Eduardo não terminam na Câmara dos
Deputados. O parlamentar é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) em um
inquérito que trata de sua suposta atuação para influenciar os rumos de
processos contra o pai.
Eduardo foi indicado pela Polícia Federal e, na tarde de
segunda (22), denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelo crime
de coação no curso do processo.
O Ministério Público Federal avalia que o deputado atuou para
pressionar autoridades brasileiras e influenciar ações contra Jair Bolsonaro
por meio das sanções econômicas do governo Donald Trump ao Brasil.
Ao apresentar a denúncia, o procurador-geral da República,
Paulo Gonet, pediu que a Câmara fosse notificada para "fins de avaliação
disciplinar". Gonet afirmou, ainda, que as denúncias apontam "atos de
graves alcance institucional".
Nesta terça, o relator do caso no STF, ministro Alexandre de
Moraes, deu 15 dias para que Eduardo Bolsonaro apresente a sua defesa.
O deputado federal rejeita as acusações e diz que está sob
jurisdição americana, o que lhe garantiria questionar as decisões judiciais.
O PT, responsável pelo processo aberto no Conselho de Ética,
afirma que a conduta de Eduardo nos EUA vai contra o decoro parlamentar e
demonstra uma "clara intenção de desestabilizar as instituições
republicanas" do Brasil.
A legenda argumenta que a atuação do deputado tem o
"intuito de pressionar autoridades brasileiras por meio de sanções
internacionais", em uma espécie de "represália às investigações que
envolvem seu pai e correligionários".
Etapas
A instauração é a primeira etapa de um processo disciplinar
dentro do Conselho de Ética. Junto dela o órgão também sorteia nomes e forma
uma lista tríplice de potenciais relatores do caso.
A escolha do responsável por conduzir o processo contra
Eduardo Bolsonaro ficará a cargo do presidente do conselho.
Depois que o nome for definido, o relator terá um prazo de
dez dias úteis para apresentar um parecer preliminar, que poderá ser pelo
prosseguimento ou arquivamento do caso.
Se o processo seguir, depois de diversas etapas, que preveem
espaço para defesa do parlamentar, o relator poderá opinar pela absolvição ou
pela punição de Eduardo Bolsonaro, que pode ir de uma censura até a perda do
mandato.
Por Kevin Lima, g1 — Brasília


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