Correios negociam empréstimo de R$ 20 bilhões para equilibrar contas.
Os Correios apresentaram,
nesta quarta-feira (15), as medidas que integram a primeira fase do plano de
reestruturação financeira e operacional para garantir sustentabilidade e
modernização da estatal.
Entre elas, a empresa
negocia com bancos o empréstimo de R$ 20 bilhões, com garantia do Tesouro
Nacional, para custear as operações dos Correios e equilibrar financeiramente a
instituição no biênio 2025-2026 e para gerar lucro a partir de 2027.
De janeiro a junho deste
ano, os Correios registraram prejuízo de R$ 4,36 bilhões, enquanto no mesmo
período de 2024, o déficit foi de R$ 1,3 bilhão.
Segundo o novo presidente
dos Correios, Emmanoel Rondon, que está no cargo há 21 dias, um dos fatores que
contribuíram para as contas negativas foi a crescente concorrência no comércio
eletrônico.
"A nossa empresa não se
adaptou de forma ágil a uma nova realidade e isso fez com que a gente sofresse
em termos de resultados, de geração de caixa e da operação em si. Então, nos
últimos anos, o que vem acontecendo na empresa é que a perda de competitividade
vem fazendo com que a gente tenha perda de receitas", admitiu Rondon.
De acordo com o presidente,
o Postalis (fundo de pensão complementar dos funcionários dos Correios e um dos
maiores do país) é um dos itens relevantes de despesas da empresa pública e é
preciso negociar uma solução melhor do que a existente nos dias atuais.
Medidas anunciadas
Entre as medidas de
reestruturação anunciadas, estão o corte de despesas operacionais e
administrativas, a busca pela diversificação de receitas e a recuperação da
liquidez da empresa.
Para os cortes de despesas,
a empresa lançará um novo Programa de Demissões Voluntárias (PDV), com
mapeamento da força de trabalho no país inteiro e de áreas ociosas.
"Esse programa de
demissão voluntária está sendo tratado de forma bem cuidadosa para enxergar no
país onde a gente tem ineficiências e ociosidades e não trabalhar de uma forma
linear, perdendo capacidade operacional onde a gente já está justo, gerando
todo o potencial de resultado que a gente pode alcançar”, diz Rondon.
A estatal também planeja
vender imóveis ociosos, o que poderá representar a entrada de recursos novos,
acompanhada da redução de gastos com manutenção desses espaços.
Para que a empresa pública
volte a reequilibrar as contas, o plano financeiro prevê também a redução de
custos operacionais com a renegociação de contratos com os maiores fornecedores
da empresa, em busca de condições mais vantajosas, sem colocar em risco a
segurança jurídica das operações.
Os Correios, que têm como
marca o serviço postal, planejam ampliar o portfólio de produtos e serviços
para captar e gerar novas receitas. A empresa está fazendo um esforço de
reaproximação com grandes clientes, ao mesmo tempo em que estuda experiências
internacionais ligadas à rede logística, sobretudo na área de serviços
financeiros, e também planeja o lançamento de produtos.
"Normalmente, as
empresas que geram lucro conseguiram se adaptar rápido e aumentaram o portfólio
de ofertas de produtos, com destaque aos serviços financeiros e serviços de
seguridade, que são os carros-chefes da maioria das empresas que geram
resultados positivos", avalia o presidente da estatal.
Para recuperar a liquidez, a
empresa espera que a captação de recursos de empréstimos ajude a financiar as
demais medidas de reestruturação.
"Estamos negociando a
operação para ter reequilíbrio da empresa em 2025 e 2026, para ter tempo de
adotar as medidas que começam a impactar em 2026, para em 2027 a gente
conseguir iniciar um ciclo de balanço em azul. A ideia é que em 2027 a empresa
já esteja reequilibrada e com lucro."
Pacote anterior
Após fechar o ano de 2024 no
vermelho, com o prejuízo total de R$ 2,6 bilhões, a empresa anunciou, em maio
deste ano, um pacote de medidas que incluiu outro programa de demissão
voluntária (PDV); redução de jornada de trabalho para 6 horas diárias em
unidades administrativas; suspensão temporária das férias de 2025 e a
decretação do fim do trabalho remoto.
Como resultado, a última
edição do PDV do Correios foi encerrada com o pedido voluntário de demissão de
cerca de 3,5 mil empregados, o que gerou uma economia anual de aproximadamente
R$ 750 milhões à estatal.
O presidente Emmanoel Rondon
comparou as medidas do primeiro semestre às anunciadas agora. "Aquelas
foram medidas emergenciais, não foram estruturais. O que a gente está buscando
agora são medidas estruturais que permitam o equilíbrio da empresa nos próximos
anos".
Questionado se a direção dos
Correios cogita a privatização da estatal, o novo presidente respondeu que as
medidas estudadas para o curto prazo são maiores do que as que foram feitas em
um passado recente e estas poderão cumprir a função de reestruturação da
empresa. Rondon adiantou que novas medidas estão em análise e poderão
acompanhar as ações estruturantes anunciadas nesta quarta-feira.
"Neste momento, estamos
buscando ter o equilíbrio financeiro da empresa, que as receitas dela sejam
suficientes para pagar as despesas que temos todos os meses, para sair dessa
discussão de viabilidade ou não da empresa. A empresa vai se colocar em pé e
vai ser viável."
O presidente Emmanoel Rondon
afirmou que os Correios têm capacidade de geração de receita. "Se fizermos
a normalização da situação de caixa dela e da operação, [os Correios] têm
capacidade de gerar receita suficiente para pagar as despesas."
Estrutura
Os Correios estão presentes
em 100% dos municípios do Brasil. O país tem 5.568 municípios, além do Distrito
Federal e do Distrito Estadual de Fernando de Noronha (PE), de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A estrutura da estatal
abrange mais de 10 mil agências de atendimento, 8 mil unidades operacionais (de
distribuição e tratamento de encomendas e correspondências), 23 mil veículos e
80 mil empregados diretos.
Agência Brasil
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