OBRAS INACABADAS: creches não terminadas em três cidades na Paraíba causam prejuízo de quase R$ 2 milhões.
Creches em Juarez Távora,
Poço de José de Moura e em Remígio deixam de atender crianças e, juntas,
ultrapassam o prejuízo de R$ 1.925.000.
Obras de creches nas cidades
de Juarez Távora, Poço de José de Moura e em Remígio, na Paraíba, estão paradas
há algum tempo e não atendem crianças e famílias que precisam do benefício
público para atender as demandas educacionais e também do cotidiano. Juntas, as
obras que nunca foram finalizadas, têm um prejuízo de R$ 1.925.00, de acordo
com o Tribunal de Contas do Estado (TCE).
As obras não finalizadas
estão na terceira parte da série do JPB2, “Obras Inacabadas: 3ª Temporada”, em
que os repórteres Laerte Cerqueira e Beto Silva viajaram por 11 cidades do
estado, para averiguar obras que foram iniciadas por gestores públicos, mas que
nunca foram finalizadas, representando um grave prejuízo de dinheiro público.
Ao todo, foram 14 obras visitadas.
As reportagens começaram a
ser exibidas no JPB2 em 9 e vão ser concluídas em 12 de dezembro; serão
reexibidas no Bom Dia Paraíba até o dia 15 de dezembro. No Bom dia Paraíba,
especialistas ampliam o debate sobre o tema das obras paradas, falando sobre
fiscalização, participação população e prejuízos coletivos.
50 crianças deixam de ser
atendidas em creche de Juárez Távora
A obra em Juarez Távora, a
90 quilômetros de João Pessoa, tinha previsão para atender 50 crianças no
município e foi iniciada em 2022, com investimento previsto de R$ 634 mil. No
entanto, houve um aditivo que aumentou o custo total para R$ 880 mil.
Registros no painel de obras
do Tribunal de Contas mostram que R$ 845 mil já foram pagos, o que corresponde
a 95% do valor total, embora o estágio de execução não reflita esse montante.
A creche foi construída em
uma área baixa da cidade, sem aterramento adequado, cercada de esgoto a céu
aberto. O prédio permanece fechado, tomado pelo mato, e as salas seguem sem
piso e sem portas.
O agricultor Severino
Bernardo resumiu o sentimento de moradores do local ao não poder ter acesso ao
bem público. Muitas mães da região acabam levando os filhos para lugares mais
distantes ou ficando em casa sem poder trabalhar.
“É bom ter uma crechezinha
para as crianças brincar Tem que funcionar. Tem muita criança que quer ir para
a creche”, ressaltou.
Segundo o secretário de
Educação do município, a obra foi interrompida após uma vistoria do TCE
identificar falhas graves e risco de desabamento da laje. Os técnicos
recomendaram o envio do relatório ao Ministério Público e à Secretaria de
Educação do Estado.
Obra atrasada há dois anos
causa prejuízo financeiro
Em Poço de José de Moura,
cidade a 490 quilômetros da capital, uma outra creche também permanece parada.
A obra deveria ter sido concluída em 2023, mas apenas 27% foi executada.
No total, R$ 608 mil foram
repassados pelo governo do Estado e R$ 260 mil já foram utilizados. Segundo o
TCE, a construção está parada desde novembro de 2024, no fim da gestão
municipal anterior.
A prefeitura atual afirmou
que fez nova licitação e precisará de mais R$ 1,2 milhão para concluir o
equipamento — valor 30% superior ao previsto inicialmente, aumento que será
pago com recursos públicos.
Estrutura de creche em
Remígio foi depredada
Em Remígio, no Brejo da
Paraíba, uma creche iniciada em dezembro de 2021 tinha previsão de entrega para
2025, mas já em janeiro daquele ano o espaço estava abandonado. As salas
apresentam janelas quebradas, fios arrancados, esquadrias furtadas. Materiais que
deveriam servir às 100 crianças da cidade foram levados ou danificados.
A obra já consumiu R$ 820
mil, quase 60% do valor total previsto de R$ 1,3 milhão, e o governo do Estado
repassou R$ 1,1 milhão. A prefeitura, porém, afirma que não pode retomar a construção
devido a irregularidades na prestação de contas da primeira parcela repassada
pelo Estado, ainda no início do projeto.
A professora aposentada
Josefa da Silva, moradora de um bairro de Remígio, expressou indignação com o
abandono e ressaltou que a construção é feita com dinheiro público.
“A gente paga imposto
direitinho, vai gastar de novo. Para o pessoal que mora nesse setor, um absurdo
deixar um prédio se desmoronar", disse.
Em Remígio, a operadora de
caixa Elizangela de Brito contou que o espaço “virou um canil”, tomado por cães
abandonados. Ela se queixa da falta de vigilância: “Tinha um rapaz de moto que
passava para fiscalizar, mas não sei se tem mais”. Para ela, a creche pronta
traria alívio às famílias: “Ajudaria muito aqui. Tá crescendo, e ter mais perto
de casa ficaria mais fácil”.
Outra moradora resumiu,
enquanto caminhava pelo entorno da obra: “Um absurdo. Devia terminar. Começam e
não terminam”.
O que dizem os órgãos
citados
O secretário de Educação da
Paraíba, Wilson Filho, explicou que, pelo Programa Primeira Infância, iniciado
em 2021, o Estado fornece os recursos, embora não tenha obrigação
constitucional, e as prefeituras executam as obras. Ele afirma que mais de 210
parcerias foram firmadas e que 70 creches foram entregues no período.
No entanto, o relatório do
TCE revela que, por causa das obras paralisadas, mais de 11.800 crianças
continuam sem acesso a um dos direitos fundamentais da primeira infância. O
auditor Júlio Uchôa reforça que, além do impacto financeiro, o prejuízo é
social e imediato.
Por g1 PB e TV Cabo Branco


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