PALAVRA DO SENHOR – O AMOR NOS APERFEIÇOA , CRIA PESSOAS SAUDÁVEIS E LIVRES.
É NATAL! A festa da
Encarnação do Senhor evoca muitos sentimentos e atitudes nobres para toda a
vida.
O
autor da Primeira Leitura (Eclo 3,3-7.14-17ª (gr 2-6.12-14)
faz-nos pensar que a qualidade de nossa relação com Deus passa pela qualidade
de nossa relação com os nossos pais. Até mesmo a longevidade de um filho passa
pela honra aos pais. O respeito é colocado como caminho de benção.
No v. 14. o autor continua
dizendo que, na virada da vida, os pais envelhecendo e sem força para cuidar
dos filhos, os filhos continuem a serem zelosos e cuidadores: “Filho, ampara a
velhice de teu pai e não lhes causes desgosto enquanto vive. Mesmo que estejam
perdendo a lucidez, sejam tolerante com eles. Não humilhes em nenhum dia de sua
vida”. Diante da fragilidade dos pais é honra de um filho que não os trata como
imprestáveis. Na 1ª Carta de Pedro (4,
8) tem uma expressão muito forte que diz: “A misericórdia apaga uma multidão de
pecado”.
A Luz da Palavra de Deus nos
faz pensar que o jeito como tratamos as pessoas, principalmente em sua
fragilidade, diz muito de nosso caráter. O que de humanidade conseguimos
construir, dentro de nós, é um atestado do quanto nós crescemos na fé, na
esperança e caridade. O Natal nos faz uma pergunta: Como tratamos as
pessoas? A misericórdia será contada, no
lugar de teus pecados e será uma ajuda para ti.
Este mesmo texto nos faz
pensar que cada geração tem que resignificar as relações dentro de casa. É fato
que cada um dá ao outro aquilo que pode ter recebido. Às vezes, os pais são
narcisistas, violentos, estúpidos...distanciam os filhos e, quando chega a
fragilidade da sua vida, começam a exigir dos filhos um carinho que nunca
deram. Ai começa um drama altamente manipulador de acusações de que os filhos
lhes abandonaram. Ampliam essas queixas e as publicam aos vizinhos, parentes,
em redes sociais, mas nunca admitem que o mal que semearam estão colhendo.
Nos meus anos de vida
sacerdotal já escutei e vi muitas histórias bonitas e dramáticas e algumas
sempre nos chamam a atenção: Certa vez, um pai expulsou de casa o filho porque
ele assumiu uma sexualidade divergente (e isso é uma questão existencial) fora
dos “padrões da moral familiar”. A mãe disse que preferia que um botijão de gás
explodisse e matasse o filho do que ele “SER daquele jeito” (Sic). É um SER
ANULADO pelos pais. Resultado, o rapaz saiu de casa e foi sobreviver fora, na
casa de um amigo. Passou pelas duras provações da vida. E os pais, na velhice,
começaram a cobrar deste filho a atenção e o cuidado. CUIDADO COMO VOCÊ TRATA
AS PESSOAS... misericórdia e caráter andam juntas, no Reino de Deus.
O Amor, que nos visitou em
Jesus, purifica a nossa alma. O amor pondera e frustra adequadamente para que
se possam dar frutos. Os filhos precisam aprender que uma boa dosagem de
disciplina também humaniza e os pais precisam aprender que eles não são donos
dos filhos e saber respeitar as suas escolhas. Ambos sempre procurando a boa
arte do bem viver.
O
salmo 127 (128) diz: “Feliz todo aquele que é temente a Deus
(...) serás feliz e tudo irá bem”. A misericórdia e o respeito faz a casa ser
fecunda de vida plena. A boa relação com Deus tem luzes na vida cotidiana.
Na
Segunda Leitura (Cl 3, 12-21) Paulo fala dos valores
evangélicos aos eleitos de Deus: “Vesti-vos com sentimentos de compaixão,
bondade, humildade, mansidão e paciência, suporta-vos uns aos outros”.
Suportai-vos significa dar suporte. É o espaço de paciência para lhe dar com a
limitação do outro. Suportar até o quanto for possível, sem anular ninguém, sem
que o peso de um anule o outro. O suportar o outro é, também, considerar o “ser
de cada pessoa” em meio às situações “de limite” do outro.
No cristianismo, o perdão,
passa por essa compreensão da limitação do outro. É um convite a dar um passo a
mais no crescimento humano do outro. Perdão não significa “deixar para lá”.
Anistia, às vezes, soa como cinismo, impunidade e pacto com a mentira e
desonestidade.
Quando Deus nos perdoa Ele
restitui a nossa qualidade de vida, faz-nos sair do mal. Recapitulou-nos para a
vida. Deus nos ensina que o perdão pode ate mesmo não merecido, mas dado por
misericórdia. Assim, cresce muito mais quem deu, pois este se revestiu do
“perfeito vinculo”. O AMOR NOS APERFEIÇOA. Assim, movidos pela graça “do fundo
de vossos corações, cantai a Deus hinos, salmos e cânticos inspirados pelo
Espirito” (v. 16b).
Outro conselho evangélico do
apóstolo Paulo, nesse texto, é a submissão de ambos, no amor: maridos e
mulheres. Em Cristo, não existe nenhum maior que o outro. O amor nos coloca a
serviço e não dentro de hierarquias. Cada um traz para “o dom de ser família”
os dons que fazem a todos crescerem, mas nunca anular ninguém.
O ano de 2025 será marcado
pelo ano de muitos assassinatos de mulheres. As antigas ideologias machistas,
revestidas de um caráter religioso falido e resgatados por esquemas políticos
ultrapassados, vêm alimentando o ódio com toda força na população. Já passou da
hora de tomarmos uma atitude de banir todos os mecanismos ideológicos
(políticos e religiosos) que ainda insistem em curvar a dignidade humana ao
chão.
O
Evangelho (Mt 2, 13-15. 19-23) narra a neura de Herodes em
perder o trono para alguém e, por isso, manda matar as crianças para que não
seja cumprida a profecia de que nasceria um menino que iria governar. O
evangelho destaca o cuidado de José e de Maria para que o Menino não seja
anulado pelo ódio dos outros. José e Maria honrosamente gastam energia para
salvaguardar a família.
“Do Egito eu te chamei”. O
Menino Jesus assume a sorte do povo Israelita desde suas origens. Há um novo
Êxodo guiado por Jesus. Egito era a terra da escravidão, mas passa a ser a
terra da liberdade.
“Levante-te, pois aquele que
queria matar o menino já está morto”. José protege o menino e vai mora na
cidade de Nazaré, cumprindo o que dizia o profeta: “Ele será chamado Nazareno”
(Is 11,1).
Hoje, na Festa da Sagrada
Família, contemplemos a nossa. Peçamos a Deus que em nossa família a Palavra de
Deus seja plena.
Neste ultimo domingo do ano quero agradecer a sua companhia em nossas meditações semanais. Obrigado pela sua amizade, orações, partilha, cuidado e carinho. Um dia, deixamos a nossa família para servir ao Senhor e adquirimos outros laços de familiaridade. Feliz Ano Novo a todos. Que 2026 saibamos ainda mais testemunhar a misericórdia de Deus e não a ideologia do ódio, da mentira e da violência. Sejamos semeadores de uma justiça que traga a paz e a harmonia.
Boas Festas!
Edjamir
Silva Souza
Padre e Psicólogo


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