Violência contra vereadores e prefeitos resulta em pelo menos 40 mortes por assassinato desde 2017.
A violência contra
vereadores, ex-vereadores, prefeitos e ex-prefeitos resultou em pelo menos 40
mortes no Brasil na atual legislatura, segundo registros em reportagens do G1
publicadas entre 2017 e 2018
Nesta semana, a vereadora
Marielle Franco (PSOL-RJ) foi assassinada a tiros no Rio de Janeiro. Ela foi a
40ª vítima (veja lista com todos os casos ao final desta reportagem).
Além desses 40, o G1 também
registrou no período os assassinatos de dois suplentes de vereador (Roberto da
Conceição Margarido, de Itatiaia-RJ, e Ueliton Brizon, de Cacoal-RO) e um
ex-vice-prefeito (José Roberto Soares Vieira, de Ourolândia-BA).
A morte de Marielle levou
milhares de pessoas às ruas em todo o país em protestos contra o assassinato e
a onda de violência na cidade. O Ministério Público avalia pedir a
federalização das investigações. O governo federal diz que concentrará
"todos os esforços" para identificar e prender os assassinos.
O PSOL, partido ao qual
Marielle Franco era filiada, informou ter registrado, desde 2016, 24 mortes de
pessoas ligadas a movimentos sociais (quilombolas, indígenas, sindicalistas,
MST, etc.) em razão das atividades políticas desenvolvidas por elas.
Em 2016, somente no período
eleitoral, a violência contra candidatos atingiu pelo menos 17 estados e levou
a 28 mortes. À época, 25 mil militares das Forças Armadas foram destacados para
fazer a segurança das eleições, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pediu à
Polícia Federal que investigasse os crimes.
'Perseguição'
Para o integrante da
coordenação nacional da Pastoral da Terra, Paulo Cesar Moreira, a morte de
Marielle não é um caso "isolado". Isso porque, na avaliação dele, a
defesa das pessoas das periferias e do campo "passa por um momento de acirramento
e conflito, marcado pela impunidade".
Segundo Moreira, há uma
"seletividade" nas "perseguições" e assassinatos de
lideranças que defendem direitos de pessoas que vivem em periferias ou que
buscam o acesso à terra.
"Em geral, as
perseguições e assassinatos visam pessoas com visibilidade, lideranças bem
articuladas e com lucidez política, que conseguem levar sua mensagem adiante,
como era o caso de Marielle", afirmou ao G1.
Moreira entende que Marielle
se enquadrava neste contexto, já que era negra, criada na periferia e, após ser
eleita vereadora com mais de 46 mil votos, se tornou uma "voz forte"
em defesa de minorias. Para ele, a militância da parlamentar a tornou um alvo.
"Marielle tinha
autoridade para falar dos problemas das pessoas que vivem nas periferias, sobre
a violência das autoridades e do Estado. A perda é grande, porque temos poucas
pessoas no Legislativo com essa autoridade, com esse conhecimento de
causa", disse.
Crime 'mais estruturado'
Pesquisador do Grupo de
Violência e Cidadania da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o
doutor em sociologia Francisco Amorim afirmou ao G1 que assassinatos de
políticos e de lideranças de movimentos sociais ocorrem com maior frequência em
locais onde o crime organizado "está mais estruturado" e tenta impor
as próprias regras.
"Essas execuções
acontecem em momentos em que há uma disputa pelo controle social da população
de modo mais amplo, quando se tenta intimidar não só o adversário, grupo rival
ou polícia, mas também a sociedade. É a tentativa de impor uma regra paralela
tão ou mais poderosa do que a regra legal", afirmou.
Amorim lembrou, ainda, que
Colômbia e México registram ondas de execuções de políticos e jornalistas,
ligadas ao tráfico de drogas.
"Não é só marcar
território, intimidar ou silenciar uma voz, é dar um recado para toda a
sociedade de que a regra paralela é mais forte", disse.
O pesquisador destacou que,
muitas vezes, as ações passam por relações de organizações criminosas que
contam com integrantes que estão em instituições legais.
"As execuções podem ser
realizadas não só por gente completamente na ilegalidade, como traficantes, mas
por pessoas que operam no mundo legal e cometem ilegalidades", ponderou.
'Déficit civilizatório'
Após a morte de Marielle
Franco, o presidente do TSE, Luiz Fux, avaliou que o assassinato demonstra o
"déficit civilizatório".
"Ficamos chocados com
essa notícia, que no mundo de hoje se tente calar a voz política através de uma
atitude que demonstra baixíssimo déficit civilizatório nesse campo. Manifestar
solidariedade aos familiares e amigos que nesse momento passam intensa dor.
Peço licença para enviar a todas as pessoas que lutaram por um Brasil melhor,
sem desigualdades e mais justo, nosso abraço sentido e sofrido", afirmou o
ministro.
G1
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