DENGUE: 31% dos brasileiros acreditam que a doença deixou de existir durante a pandemia, mas Ministério da Saúde aponta aumento do número de casos em 2022.
Para especialistas, os
brasileiros convivem há tanto tempo com a dengue, que se esquecem dos seus
riscos, diante da ameaça da Covid-19.
Levantamento aponta que 31% dos
brasileiros acreditam que a dengue deixou de existir durante a pandemia. Apesar
de 53% avaliarem que há risco de contágio, 22% deles afirmam que o risco
diminuiu. Entre as razões, 28% dizem não ter ouvido mais falar em dengue. As
informações são de uma pesquisa realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e
Consultoria), a pedido da biofarmacêutica Takeda, com coordenação científica da
Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Entretanto, o Ministério da Saúde
aponta um aumento no número de casos de dengue em 2022. De acordo com o último
Boletim Epidemiológico da pasta, até a semana epidemiológica 10, ocorreram
161.605 casos prováveis de dengue, um aumento de 43,9% em comparação com o
mesmo período do ano passado.
De acordo com a infectologista da
SBI Melissa Falcão, “o grande impacto das medidas de isolamento social e o medo
gerado na população pela divulgação massiva do número diário de casos e mortes
pela Covid-19 fizeram com que outras doenças perdessem a importância para a
população. Fato que ocorreu não apenas para as arboviroses, como dengue,
chikungunya e zika, mas também para doenças crônicas, como hipertensão e
diabetes”.
A epidemiologista do InfoDengue,
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Sara de Souza Oliveira afirma que os
brasileiros convivem há muito tempo com a dengue, o que pode diminuir sua
preocupação.
“As pessoas tendem a diminuir a
preocupação que têm, justamente por observarem outras doenças surgindo, mais
desconhecidas até então, e se sentirem mais ameaçadas por elas. Então, isso
pode explicar a despreocupação do brasileiro neste momento atual com a dengue.
Ele vive há muito tempo com ela e acha que o pior já passou.”
Melissa Falcão afirma que o aumento
do número de casos de dengue em 2022 se deve a uma conjunção de fatores, entre
eles a própria redução dos casos de Covid-19.
“Os fatores que podem também ter
influenciado esse aumento das notificações foram a amenização da pandemia e a
redução dos atendimentos nas unidades de saúde que fez com que os profissionais
voltassem a dar mais atenção ao diagnóstico diferencial entre as doenças febris
agudas, voltando a atenção para o diagnóstico de outros agravos à saúde.”
Outra razão para o aumento de
casos, segundo a infectologista, é a despreocupação da população em relação à
proteção contra o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue.
Informação sobre a dengue
A pesquisa também apontou dados
preocupantes sobre a falta de conhecimentos básicos da população sobre a
dengue: 8% desconhecem ou não lembram a forma exata de contágio e 4% mencionaram
contato de pessoa para pessoa, o que é incorreto. Já picada de mosquito (76%) e
água parada (24%) aparecem como as formas de contágio mais citadas entre os
participantes do levantamento.
A infectologista da SBI Melissa
Falcão explica como se dá o contágio.
“A transmissão da dengue ocorre
pela picada da fêmea do Aedes aegypti ou Aedes Albopictus. A fêmea do mosquito
se contamina ao picar pessoas infectadas na fase virêmica, ou seja, fase na
qual o vírus circula no sangue, e a partir daí transmite o vírus ao picar
outras pessoas. Após ser infectado, o mosquito fêmea será capaz de transmitir o
vírus aos seus sucessores, o que faz com que a transmissão do vírus seja
mantida por meio desses mosquitos.”
Melissa deixa claro que não há o
contágio de pessoa para pessoa. “Pode acontecer [o contágio] em pessoas da
mesma família, porque a presença de mosquitos infectados expõe a todos que
vivem no mesmo ambiente ao risco de adquirirem dengue por meio da
picada”.
Outro dado revelado pela pesquisa
mostra que seis em cada dez brasileiros não sabem quantas vezes uma pessoa pode
contrair a doença, enquanto 16% acreditam que podem contrair um número
ilimitado de vezes.
Rafael Felipe Martins, líder de
logística em Brasília, comenta que não sabe quantas vezes é possível contrair
dengue.
“Meu avô contraiu dengue em 2016
pela primeira vez. Nós ficamos bastante preocupados, porque ele ficou bem
debilitado, mas depois se recuperou. Hoje ele toma mais cuidado com água
parada, porque não sabemos quantas vezes ele pode pegar dengue de novo.”
Melissa Falcão explica que é
possível contrair a dengue até quatro vezes.
“Existem quatro sorotipos de
dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4) e cada um deles pode infectar as
pessoas apenas uma vez, gerando imunidade permanente para aquele sorotipo.
Sendo assim, cada pessoa pode adquirir dengue até quatro vezes, com maior risco
de evoluir para uma dengue grave nas infecções subsequentes.”
Tratamento e Prevenção
A epidemiologista da Fiocruz Sara
de Souza Oliveira explica como é feito o tratamento da dengue. “Atualmente o
tratamento da dengue é feito por meio de manutenção dos sintomas e hidratação.
Como a dengue é uma doença viral, não existe atualmente uma medicação para
tratar. Nós temos que fornecer para o corpo condições para ele mesmo combater a
doença.”
Segundo Sara, é preciso ficar
atento aos sinais de dengue grave: “dores abdominais; dores fortes;
sangramentos de qualquer natureza, por exemplo, sangramento nasal, sangramento
auricular; mal-estar geral. [Se houver] esses sintomas, é necessário que a
pessoa volte ao serviço de saúde para verificar se ela está desenvolvendo um
quadro de dengue grave.”
No momento, não existe nenhuma
vacina contra a dengue aprovada para a população. Portanto, segundo o
Ministério da Saúde (MS), a melhor forma de prevenção é o controle do mosquito
Aedes aegypti. A pasta recomenda reduzir a infestação de mosquitos por meio da
eliminação de criadouros, ou manter os reservatórios e qualquer local que possa
acumular água parada totalmente cobertos com tampas, impedindo a postura de
ovos do mosquito.
Além disso, o MS orienta a tomar
medidas de proteção individual para evitar picadas do mosquito, especialmente
em áreas de maior transmissão, como uso de repelentes, calças e camisas de
manga comprida, mosquiteiro sobre a cama, tela em portas e janelas e, quando
disponível, ar-condicionado.
Para outras informações sobre a
prevenção e controle da dengue, acesse o Guia de Vigilância em Saúde.
Fonte: Brasil 61 -
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