Brasil tem a segunda maior taxa de juros entre os principais 40 países do mundo.
De acordo com levantamento da Infinity Asset Management, o Brasil tem a segunda maior taxa de juros entre os principais 40 países do mundo. Apenas a Argentina, vizinha sul-americana cuja inflação no ano passado foi de quase 100%, está à frente no ranking, com juros de 75% ao ano. Vizinhos como a Colômbia, com 12,75%, e Chile, com 11,25%, também estão entre os países com as maiores taxas de juros do mundo, mas, ainda sim, abaixo da brasileira.
Quando o parâmetro de
comparação é a taxa de juros reais da economia, que é a diferença entre os
juros nominais e a inflação, o Brasil é o primeiro país do ranking, com 7,38%
de juros reais. Em seguida, vem México (5,53%), Chile (4,71%), Colômbia (3,04%)
e Hong Kong (2,35%).
Qual o problema com a alta
taxa de juros?
O administrador e economista
Eduardo Fayet, especialista em gestão e desenvolvimento público e privado,
explica como a taxa de juros impacta a atividade econômica do país, o que ajuda
a explicar a campanha pela queda da Selic.
Fayet diz que quando o preço
dos produtos e serviços começa a subir por causa do excesso de demanda da
população e da incapacidade das empresas de atender a isso, a saída é
desestimular o consumo. É por isso que em momentos de inflação alta o Banco
Central sobe a taxa de juros, porque isso encarece o crédito para empresas e
pessoas, o que contribui para que a demanda por bens e serviços diminua e os
preços se estabilizem ou comecem a cair.
"Se o juro está muito
alto, o preço final dos bens e serviços fica muito caro. Elas passam a reduzir
o consumo para economizar, porque esse gasto não cabe dentro do orçamento das
famílias e da receita geral das próprias empresas. Portanto, isso vai gerar um
desaquecimento da economia".
Fayet explica que os juros
altos atrapalham o crescimento econômico, porque se torna mais vantajoso para
as empresas emprestar dinheiro ao governo do que tomar crédito emprestado para
ampliar a produção, comprar novas máquinas e equipamentos ou contratar mais
funcionários.
"Se não tem
investimento produtivo, a economia não cresce, porque investir em títulos da
dívida não faz a economia crescer. O que gera emprego, o que gera renda, o que
gera salário, o que gera, inclusive, lucros para o setor privado são
investimentos na economia real. Em negócios, portanto".
O economista defende a
revisão da taxa de juros para baixo para que a economia se aqueça novamente,
mas diz que isso não pode ser feito de qualquer jeito. "Não é uma conta
simples. O Banco Central não pode fazer uma redução brusca dos juros, porque isso
impacta na previsibilidade, é ruim para o mercado financeiro e, também, para as
indústrias e investidores da economia real. Vários economistas têm feito uma
conta que a taxa Selic poderia estar entre 8% e 9%, mesmo com a inflação que
temos hoje".
A economista Deborah
Bizarria acredita que o Banco Central age corretamente ao esperar mais antes de
começar um ciclo de redução da taxa de juros. Ela explica que fatores
importantes para balizar a decisão em torno da Selic não estão claros, como o
compromisso do governo com as contas públicas. O ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, disse que pretende entregar uma nova regra fiscal para substituir o
teto de gastos ainda em março.
"É saudável que o Banco
Central esteja agindo com cautela. Uma definição de qual vai ser a política
fiscal do governo Lula é fundamental como insumo para as decisões do Banco
Central de manter a subida ou diminuir a taxa de juros. Afinal de contas, se a
política fiscal for expansionista, ela adiciona demanda e pressiona a inflação
e, também, os juros para cima".
O deputado Evair de Melo
(PP-ES) diz que, assim como o Brasil, outros países, como os Estados Unidos,
têm o desafio de encontrar um patamar de juros que contenha o avanço
inflacionário e, ao mesmo tempo, permita que a economia cresça. Para ele, a
solução para o problema deve vir de forma técnica e não com pressão sobre o
Bacen.
"O governo deveria se
centrar e apresentar um plano da retomada do emprego, da retomada do
crescimento econômico, para atrair novos investimento para o Brasil,
principalmente com o capital externo. Isso naturalmente vai distensionar a
pressão sobre a economia brasileira e vai trazer uma redução nos juros e quando
eu tiver o crescimento da cadeia produtiva, também vou reduzir a inflação,
porque eu tenho maior oferta".
Fonte: Brasil 61 -
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