Dino manda governo apurar regularidade de emendas para eventos.
Decisão visa a verificação do tipo de conta para
transferências
O ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF),
ordenou nesta quinta-feira (20) a intimação do governo federal para que passe
um pente-fino na execução de “emendas Pix” direcionadas por parlamentares ao
setor de eventos.
Ao mencionar as emendas Pix, Dino se refere às emendas de
transferência especial, que não possuem finalidade definida previamente e são
transferidas diretamente para algum Estado e município indicado por algum
parlamentar. Desde 2019, tais emendas individuais são impositivas, ou seja, de
liberação obrigatória pelo governo federal.
Na decisão desta quinta, Dino ordenou que seja verificado se
as emendas para eventos foram transferidas para contas específicas ou
genéricas. O ministro também mandou o governo informar se o dinheiro pode ser
rastreado até o beneficiário final, bem como se o evento contemplado foi
inserido no Programa Emergencial para Retomada do Setor de Eventos (Perse).
O levantamento completo deve ser enviado ao Supremo pela
Secretaria de Relações Institucionais (SRI), pelo Ministério da Fazenda (MF) e
o Ministério do Turismo (MTur), por intermédio da Advocacia-Geral da União
(AGU), determinou Dino.
O Perse foi criado no contexto da pandemia de covid-19, que
paralisou o setor de eventos. Por meio do programa, foram concedidas isenções
fiscais para as empresas do ramo. Após o fim da emergência sanitária,
entretanto, o governo precisou entrar em disputa com o Congresso para
descontinuar o programa.
Em meio ao embate, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
chegou a levantar suspeitas a respeito de empresas de outros setores que teriam
sido beneficiadas indevidamente pelo Perse. Em seguida, a Receita Federal
passou a produzir relatórios sobre o programa e disse ter identificado mais de
2 mil empresas irregulares.
Saúde
A mira de Dino se volta ao setor de eventos após o ministro
ter determinado o bloqueio de ao menos R$ 2,5 bilhões em emendas destinadas à
Saúde, segundo dados do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. A quantia
corresponde a recursos que eram repassados a estados e municípios na modalidade
chamada “fundo a fundo”, em transferência para contas genéricas.
Nesta sexta, Dino frisou a decisão do Supremo que obriga a
abertura de contas específicas, com a identificação do beneficiário final dos
recursos federais, para que os recursos de emendas Pix sejam liberados. Ele
observou, contudo, que poucos gestores regularizaram a situação.
A maior parte do dinheiro segue bloqueada diante do
“insuficiente índice de cumprimento da decisão judicial pelos gestores locais,
na medida em que não regularizam as contas bancárias específicas”.
Cumprimento de decisões
Dino aproveitou sua decisão mais recente para ressaltar que
“é falsa a versão de que existe amplo e imotivado bloqueio de emendas
parlamentares na área da Saúde, ou qualquer outra”. Ele defendeu que os
recursos são travados devido às irregularidades. “O que há é a imposição de
obrigações de fazer”, escreveu.
“Ocorre que não basta a existência de velhas ou novas leis,
se elas não forem cumpridas - conforme fixado em determinações judiciais”,
asseverou o ministro.
Segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU)
enviado ao Supremo, apenas 19% das emendas Pix dos últimos seis anos permitem a
identificação do beneficiário final por meio dos extratos bancários.
Entenda
Nos últimos meses, o ministro Flávio Dino tem protagonizado
um embate com o Congresso em torno da liberação de emendas parlamentares
impositivas. Dino tem bloqueado a liberação de recursos que não permitam
identificar qual o padrinho político da transferência, quem é o destinatário
final do dinheiro e como os valores foram gastos, conforme critérios definidos
pelo plenário do Supremo.
Nesta sexta, o ministro disse que segue “em permanente
diálogo” com Executivo e Legislativo, “a fim de encontrar pontos de equilíbrio
e superar impasses”.
A atuação do Supremo ocorre depois de o Congresso ter
ampliado seu poder sobre o Orçamento da União nos últimos anos. Na Lei
Orçamentária Anual (LOA) de 2024, por exemplo, foram inseridos mais de R$ 49,2
bilhões em emendas parlamentares. Há dez anos, em 2014, esse valor era de R$
6,1 bilhões.
Agência Brasil
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